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Publicado: Segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Brasil: Povo católico! Estado laico?

Deus seja louvado, temos e somos um povo cristão, católico. Quando em 1889 era proclamada a República, os católicos éramos 98% da população. Mais de um século depois, segundo o último Censo realizado pelo IBGE, a comunidade católica somava em 2000, cerca de 125 milhões de brasileiros. Hoje devemos estar chegando a 135 milhões. Ainda podemos apresentar-nos como a maior comunidade católica do mundo. Cerca de 10% de todos os católicos.

Um mínimo de modéstia está exigindo que reconheçamos ter havido, principalmente de 1950 para os dias de hoje, um grande avanço dos “evangélicos”. Hoje, os protestantes “históricos” — luteranos, presbiterianos, anglicanos/episcopalianos, metodistas e batistas — somam cerca de 8 milhões. Foram ultrapassados pelos “crentes”das Igrejas “pentecostais” — Assembléia de Deus, Igreja Cristã do Brasil, Evangelho Quadrangular e um sem número de outras — somando, segundo o Censo do ano 2000, exatamente 17.733.477. Os integrantes dos dois ramos da Assembléia de Deus chegam a 8.418.154. A Universal do Reino, de Edir Macedo, cujo poder econômico-financeiro, segundo recente pesquisa, vem logo depois dos Bancos (sic!) contava com 2.101.884. Assim, os cristãos não-católicos somam 25.733.477 de fiéis, 15% dos brasileiros.

Os espíritas, afro-brasileiros, budistas, muçulmanos e outros não passam de quatro milhões. Restam 7,4% de brasileiros sem filiação religiosa. Entre eles não mais de dois a três milhões são descrentes, proclamando-se ateus ou agnósticos. Não mais de dois ou três entre cada grupo de cem brasileiros. Tal situação estatística confirma que somos, de fato, um povo cristão. De maioria católica (79,4%), com uma inegável expansão dos “evangélicos” de linha tradicional, “pentecostais” e “neo-pentecostais”. Inexistem estatísticas sobre o número dos fiéis ortodoxos de origem oriental — sírios, russos, iraquianos, etc. — sendo a absoluta maioria dos cinco milhões de descendentes de libaneses maronitas católicos.

Quando o Marechal Deodoro proclamou a República, marcadamente positivista, o Estado separou-se da Igreja católica. Durante o Brasil Colônia e Império, de 1500 a 1889, fomos a Igreja do Estado com alguns privilégios e as limitações do Padroado. Éramos a Igreja oficial, porém, vivíamos na dependência do “placet” do Imperador e seu Gabinete, tanto na criação de novas Dioceses e Paróquias, quanto na divulgação dos documentos da Sé Apostólica de Roma. Certamente, nem o fato de sermos a Igreja oficial, quanto os benefícios da côngrua, compensavam os cerceamentos e alguns conflitos históricos do sistema de união entre Igreja e Estado. Provo no capítulo inicial do meu livro “Presença da Igreja no Brasil — 1900/2000” (esgotado), que a separação do Estado, com a conseqüente superação dos direitos do Padroado foram, na realidade, um momento de libertação para a Igreja. Livre, em questão de 40 anos a Igreja católica avançou notavelmente em sua organização, na evangelização e na catequese, sua missão própria. Contamos hoje com 41 Arquidioceses, 226 Dioceses, Prelazias e Eparquias Orientais, 8 mil Paróquias, com mais de 100 mil Comunidades periféricas urbanas ou rurais.

Lideramos de longe, de norte a sul, em número e qualidade, as obras caritativas, assistenciais e promocionais. Temos 19 Universidades Católicas, várias delas Pontifícias, milhares de escolas infantis, de ensino fundamental e qualificados colégios. Impressiona a qualquer um a eficiência e atuação das nossas Pastorais sociais e não-sociais, as Associações Religiosas e os Movimentos eclesiais que temos. Contamos com três redes de televisão, cerca de 200 rádios e cinco entre as dez maiores editoras do Brasil. Claro que temos inegáveis problemas internos enfrentando, também, uma ampla difusão dos “evangélicos”, uma legislação divorcista, abortista e contraceptiva, vivendo ainda milhões de irmãos nossos em gritante situação de injustiça social. É inegável a contradição entre fé e vida de tantos católicos.

Esse quadro demonstra que somos um povo cristão de absoluta maioria católica. No “continente da esperança” (João Paulo II) que é a Igreja na América Latina e no Hemisfério Sul o Brasil, temos um Estado leigo. Atente o leitor: um Estado leigo não, porém, um Estado “laico”, como recentemente vêm trombeteando articulistas anticlericais, agnósticos e ateus, favoráveis à ampliação dos casos de aborto, à legalização da união de homossexuais e outras propostas liberalizantes, permissivas e anti-cristãs. Vamos prová-lo. Desde 1934 quando foi promulgada a segunda Constituição republicana, as nossas sucessivas Cartas Magnas como a última de 1988, abrem-se invocando o nome de Deus em seu “caput”. São constitucionais o ensino religioso nas escolas oficiais e a assistência religiosa nas Forças Armadas. O Crucifixo continua destacado não só nas instituições católicas mas, também, nos plenários das Câmaras Municipais, Assembléias de Estados e no Parlamento nacional. Muitos dos nossos Legislativos municipais prosseguem abrindo suas sessões com algum texto das Sagradas Escrituras.

Participei, dia 1o de janeiro último, das solenidades na Câmara Municipal de Itu, quando foram empossados, além dos Vereadores, o novo Prefeito e Vice-Prefeito. O Vereador mais votado, Raul Seixas de Itu, do PT, que presidiu a concorrida solenidade leu, logo em sua abertura o Salmo 22: “O Senhor é o meu Pastor...”. Todos menos um dos novos Vereadores agradeceram, enfaticamente, a Deus e seus familiares, o resultado das últimas eleições. O novo Prefeito, Herculano Passos Jr., professou-se respeitoso de todas as Igrejas, mas “católico praticante”. O ex-governador e atual Deputado Federal Luiz Antônio Fleury Filho comprometeu-se, publicamente, com a defesa da vida dos nascituros diante de qualquer possível novo projeto abortista. O presidente da solene sessão concedeu-me a palavra, como bispo da Igreja Católica, e ao presidente do Conselho de Pastores da cidade. O Crucificado ainda tem a sua sagrada imagem nos Tribunais de todas as instâncias. Se o que estou referindo acontece de norte a sul do Brasil, somos um Estado “laico” como, lamentavelmente, é a França, ou um Estado “leigo” como quase todos os do Ocidente? Claro, nem de longe somos uma teocracia à semelhança dos países muçulmanos. Porém, continuar afirmando ou escrevendo que somos um Estado “laico” é supina ignorância, para não dizer tolice...

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