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Publicado: Sábado, 10 de janeiro de 2009

Branco no Preto

Crédito: Deborah Dubner Branco no Preto
Costuro a vida na luz e na sombra do meu caminhar
O branco invade lentamente o preto vivo de minha história. Na memória presente em cada embranquecer, uma voz sussura o que fui e passei. Fios prateados reluzem o passado e indicam a inexorável força do tempo.
 
Na negritude moram todas as chances do viver. Tudo o que não sei se apresenta sob a forma da vastidão escura. Uma tela em preto para desenhar meus sonhos. Quem disse que a vida nasce do branco? É o preto que traz as perguntas, no vazio da existência, quando as respostas flutuam sem nome e sem dono.
 
Novamente, o branco invade lentamente o preto vivo de minha história. Não reluto. Acolho cada fio lunar com a sabedoria dos ancestrais e o sabor de envelhecer. Cada fio branco tece a teia dos porquês respondidos e do amor vivido. Cada fio preto tece a teia da estrada inabitada. Quem disse que o escuro é triste? Não, o escuro é a casa das estrelas e da lua, não pode ser triste. 
 
Na branquidão vejo os passos certeiros e tropeços que dei. Tudo o que sei se apresenta sob a forma de canção. Uma tela em branco para recolher o que realizei. O branco invade o preto de sabedoria e paz.
 
Olho no espelho os fios que vem e os fios que vão. Passado e futuro tecem o presente da minha morada. Costuro a vida entre o branco e o preto, na luz e na sombra do meu próprio caminhar.
 
Aos fios pretos, peço que brilhem e se entreguem ao viver.
Aos fios brancos, peço que cheguem com beleza e ternura.
 
Não adianta esconder ou evitar. O tic tac marca o compasso do tempo que não descansa. Minha jornada é essa: dançar entre o claro e o escuro e compor a música da minha existência. No preto, o som do branco. No branco, os passos do preto.

Minha jornada é essa.
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