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Publicado: Segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Bordados da alma

Ganhava a vida bordando, no tempo em que o bordado artesanal era muito valorizado. Mas ela era mais do que uma bordadeira comum, era uma artista, uma pessoa admirável que fazia de seu trabalho humilde um poema de amor que lhe aquecia a alma.

Enquanto bordava os delicados monogramas nos guardanapos das noivas que lhe encomendavam o enxoval, imaginava os recém-casados tomando o café da manhã ainda meio sonolentos mal despertos da noite de amor que acabara de acabar. Sentia-se participante de sua felicidade. Provavelmente, eles nem reparariam nos detalhes dos guardanapos, mas o delicado bordado estava ali como se fosse uma homenagem da humilde bordadeira.

E as camisinhas de pagão de fina cambraia rodeada de caprichados biquinhos, feitos com o maior capricho, o mais próximo possível da perfeição, ela tocava-as com extremo cuidado como se ali já se abrigasse um corpinho de bebê.

Podia sentir o doce aroma do chá da tarde que seria servido sobre a toalha toda trabalhada em ponto cruz que lhe custara vários dias de trabalho de manhã à noite.

Recebia o pagamento pelo seu trabalho, nunca condizente com as horas trabalhadas, mas o prazer que o seu trabalho proporcionava era uma paga bem mais generosa.

E as encomendas caprichosamente embaladas para a entrega levavams suas vibrações amorosas, como se um pouco dela estivesse ali entre crivos e rechilheus.

Tinha duas irmãs, Alda e Alba. Não foi por acaso que seus pais lhe deram o nome de Alma.

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