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Publicado: Segunda-feira, 21 de junho de 2004

Biscates no sofá

A palavra biscate, usada para designar aqueles que vivem de pequenos expedientes, acabou se tornando uma adjetivo também para apontar moças que vivem do sexo fácil. Virou chacota. Hoje, todo mundo diz biscate, até mesmo na novela das sete, evidentemente sem perder o seu sentido pejorativamente vulgar, chulo...

Acontece que estamos cercados de biscates - loiras, morenas, ruivas, naturais (raras) e artificiais, malhadas ou siliconizadas (a maioria) - que deixaram as alcovas para sentarem nos inúmeros sofás que decoram o horário nobre da televisão brasileira. Ser biscate dá audiência e os programas não se constrangem em abrir espaço para que elas esclareçam, na maior cara de pau, o afair que tiveram com um jogador de futebol (famoso, é claro) ou a transa com um certo cantor sertanejo (casado, sempre) que teria lhe rendido uma indesejável (e rentável) gravidez.

Outra noite, uma dessas estava na tevê ameaçando lançar um livro descrevendo a aventura que se arrastou por dez anos com um fenômeno do futebol mesmo enquanto ele estava casado com uma loirinha que havia engravidado durante o namoro. Como se não bastasse, a moça garantia ao jornalista que não só estava processando a esposa que, ao descobrir a relação extra-conjugal do marido tratou de xingar a amante, como solicitava à Justiça uma indenização do agora ex-amante famoso (e rico). Outro programa exibiu cenas do parto da filha bastarda de um craque da bola com uma dessas beldades que aproveitam os quinze minutos de fama para descolar um cachê e sair pelada em revista de quinta categoria.

O que espanta é o interesse de certas emissoras de televisão - cuja concessão é dada pelo Governo Federal - em dar destaque a esse tipo de notícia, cavada por pessoas que só querem aparecer e ter seu momento de celebridade. Em compensação, muitos artistas caem no esquecimento do público justamente por falta de oportunidade.

O (excelente) cantor e compositor Luís Vieira, autor do clássico "Menino Passarinho", elogiou o apresentador Ratinho (quem diria!) por abrir espaço em seu programa para astros que não conseguiam mais se apresentar na tevê porque os canais - com raras exceções - preferem a baixaria em detrimento ao talento. Na mesma semana em que Luís Vieira disse isso no SBT, a RedeTV dedicou dois programas inteiros a uma tal de Loira (tingida) da Ferrari que aos 17 anos se tornou amante de um empresário com mais de 50 anos, casado e milionário. A moça ganhou notoriedade quando foi presa ao desembarcar no Brasil, mas se tornou famosa ao lavar roupa suja no programa da Luciana Gimenes - aquela que namorou vários roqueiros famosos e finalmente engravidou do "rolling stone" Mike Jagger.

Essa capacidade da mídia em criar celebridades instantâneas tem inspirado muita gente a fazer qualquer coisa pela fama e, principalmente, pelas benécies que ela proporciona. A Darlene da novela das nove é um conjunto de todas essas biscates que circulam por aí a caçar pagodeiros, jogadores de futebol, cantores sertanejos e outros deslumbrados pelo sucesso que depois se vêem em apuros por se meterem em encrencas difíceis de contornar e que podem, sim, prejudicar uma carreira promissora.

A lama atrai os porcos.

Esses programas sobrevivem porque damos audiência a eles. Essas biscates proliferam porque as tornamos estrelas - ouvindo o que elas são capazes de dizer, comprando as revistas em que elas são capazes de se mostrar, pagando o preço que elas são capazes de cobrar por um programa e arrumar uma dor de cabeça daquelas!!!

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