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Publicado: Segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

Big Brother Brasil: um experimento antropológico popular

O que há de saudável em um programa do tipo BIG BROTHER BRASIL 5? Porque milhões de pessoas param vidradas (algumas em canais exclusivos) pra observar o jeito de ser de desconhecidos? É muito estranho pensar que esse assunto está em quase todas as rodas sociais: da feira até festas de executivos, colocando em foco a discussão de perfis sociais e condutas morais incitados pela vigilância, controle e crítica.

A grande sacada está no que somos por dentro, tão parecidos com o que vemos por fora nas pessoas! É engraçado porque vejo que pessoas bastante diferentes dão sua espiadinha (“estava passando pela sala”, “minha filha vê”, “a empregada só fala nisso”), numa superioridade critica em relação ao objeto criticado, mas que rapidinho engatam uma 2ª marcha no assunto e falam com propriedade do lado escuro da lua de todo mundo!

Isso nos leva a questionar que existe um lado obscuro e nada saudável nas pessoas que projetado na tela nos leva a um encontro com nossos conflitos.

Ser verdadeiro, autentico e leal o tempo todo atrai a simpatia coletiva, mas na vida real quem suporta alguém assim? Todos jogamos para buscar êxito profissional, sucesso financeiro, reconhecimento social, aceitação e formação de grupos !!

Vivemos rodeados de mentiras brandas ou não, armações subliminares e acordos de gavetas para sobrevivência no coletivo. Quando o premio da sobrevivência é em dinheiro, pioram as urticárias morais que corroem as nossas relações.

É saudável que a prudência seja aliada da convivência na arte de agregar e viver em grupo. Não devemos ser omissos aos nossos desejos, dogmas e crenças, mas devemos ser maleáveis para o confronto com a diferença, evitando que a intolerância nos leve à amargura, solidão e à capacidade de dar rasteiras nos outros.

Saude é autenticidade na dose certa. Todos nós provamos de remédios amargos como inveja, ciúme, vingança, mesquinharias, intrigas e outros sentimentos e atitudes expostos visceralmente no BBB5. Todos também possuímos a capacidade de ser doces, verdadeiros, pacientes , conciliadores e criar vínculos de amizade, amor e solidariedade.

O equilíbrio vem da maturidade. Com o passar do tempo, o aprendizado inevitável da convivência em grupo nos leva a buscar uma forma saudável para o dia a dia — aspecto deletado dos protagonistas do BBB5, ainda na faixa dos 20 e poucos anos, aonde rebeldia e vantagem são sinônimos de bem estar. E refletem as diferenças culturais de formação moral e social, nos empurrando inconscientemente (ou quase ) a tomarmos partidos e eliminarmos os politicamente incorretos.

O espelho da tela da TV nos atrai involuntariamente por conta de mexer com valores profundos dentro de nós, fazendo uma mistura explosiva do bem e do mal como aperitivo do dia.

Prestem atenção: no fundo, o bem sempre vence, o fraco é sempre protegido, excesso de maldade gera mal estar, corporativismo profissional nas relações é um modelo furado, excesso de sinceridade gera injuria e vivemos julgando nossos “vizinhos” - apesar que “brothers” são sempre os outros . A vida é mesmo um grande jogo, mas sem vencedores absolutos. Estamos num grande fórum privado de justiça e venceram até hoje, os participantes que jogaram “com o coração”.

A vitória vem de buscar uma saúde interior, o afeto é uma pedagogia positiva que pode ensinar que entre o remédio e o veneno dos sentimentos humanos , a diferença é só a dose (e o ponto de vista!).

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