Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 23 de maio de 2008

Bem-Te-Vi

Bem-Te-Vi, bem-te-vi, em plena natureza empoleirado
cantando em liberdade o teu agrado.
Fez-se ouvir, fez-se ver e bem me viu
condoído das agruras que sofri.
E, a cantar canto enlevado,
sobre a árvore emuldorada
na janela hospitalar a que assistí,
veio dizer-me docemente
quanto a Deus, agradecido, dedicava
o canto alegre abençoado
 
A esse momento extremo
Em que a vida, quase um fio, se estremece,
Do leito enfermo, em que a noite era só fim,
Da natureza, em modulado som e inspirada voz,
Ouço ainda extasiada o trinar que me salvou!
Quanto devo ao belo canto que traduziu esperança,
Nesse pássaro brincalhão, liberto, mas encantado!
Bem-te-vi, que é que viste?
Um coração derrotado?  Uma vida  já no fim?
Ou então quiseste dar-me um crédito que eu não vivia,
Ou já não acreditava existir, em meio à minha porfia?
 
Essa sua liberdade, de pura natureza revestida,
Raridade como a voz  da providência, que confia,
Expressando ver em mim, o que eu não via,
Despertou-me forças  não sabidas,  em esperança,
Redobrada fé,  energias, novo alento,
A bendição de talento
E me fez nascer  de novo para a vida,
Para o bem do frágil ser, que entretanto
Ao bem total, sempre esteve e está votado.
 
Desde então, a cada tela me inspiro,
Na vocação autêntica a partir da qual me dediquei,
Retrato gratificada em prece e simbolismo
A natureza,
Aquele mágico momento, em que o espectral
E adorável bem-te-vi, me viu e eu o vi,
E, me achei,
E, descobrindo-me, o abracei
E, dedicando-me o consagrei,
Sentindo como nunca o SER que sou
Em dignidade na aura da mulher,
Esposa, mãe de um bem supremo e príncipe,
Consciente do caminho que traço ao caminhar
A trilha libertadora da arte, na sua incomensurabilidade,
Certa e convicta  da transcendente benção e inspiração
Que a natureza sã, conspícua  quanto profícua,  fez  a mim,
Em Santa hora germinar...
 
Para a valorosa Maricélia, pintora, com os cumprimentos de Erasmo Figueira Chaves
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