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Publicado: Quarta-feira, 23 de março de 2005

Bebês para queimar

O leitor ficará estarrecido e indignado lendo um livro dos jornalistas ingleses Michael Litchfield e Susan Kentish, “Bebês Para Queimar”, traduzido para a nossa língua pela Editora Paulinas. Permitido e realizado à farta em hospitais da Inglaterra, ocorreu a ambos a idéia de um levantamento sério sobre o que acontecia com os fetos abortados, especialmente em hospitais de Londres. Ocultando a própria identidade eles contataram com administradores hospitalares e médicos. Decidiram-se a seguir os veículos carregados de fetos humanos chegando às indústrias que os disputavam, oferecendo mais dinheiro para consegui-los. Coisas do mercado-livre na maioria dos países do Ocidente “cristão”! Vencedores nesse iníquo comércio com fetos, os autores de “Bebês Para Queimar” chegaram a várias indústrias de cosméticos. Os fetos, estraçalhados ou não, se não haviam sido queimados, incomodando a vizinhança dos hospitais, eram em sua maior parte transformados em cremes para embelezar madames das classes mais altas e mesmo de mulheres comuns. Um horror que chega a dar asco.

Quem não pode ler a referida obra, leia pelo menos o recentíssimo livro do conhecido e culto professor Felipe R. Q. Aquino, “Aborto?... Nunca!...”, publicado este ano pela Editora Cleofas, de Lorena. É bem possível que algo semelhante esteja acontecendo em algumas capitais do Brasil, apesar das 40 razões apresentadas nesse livro contra a iníqua e cruel prática do aborto voluntário. Por que jogar no lixo os membros dos nascituros abortados? É melhor comerciar com eles. Dá dinheiro como o previsível com embriões humanos congelados em laboratórios interessados em “reprodução assistida”, agora possível pela recente Lei da Biossegurança desde que aprovada e promulgada pelo Presidente Lula.

A cada dia estou mais impressionado, preocupado e angustiado com o gravíssimo problema do aborto no Brasil. Estatísticas confiáveis falam em cerca de um milhão por ano. Pelo menos um terço deles, cerca de 300 mil, são praticados em hospitais públicos ou particulares conveniados com o SUS. É uma hecatombe tão avassaladora quanto as ondas do maremoto Tsunami, o “vendaval da Ásia” a que se referiu o Presidente Lula em seu linguajar popularesco. Em mesa-redonda realizada em 7 de março no lotado auditório da “Folha de S. Paulo”, véspera do Dia da Mulher, vocacionada para dar a vida e não para matar, de que participei como cidadão e homem de fé, presente o Ministro da Saúde Humberto Costa, alertei para a muito provável comercialização de embriões humanos, como talvez já se venha fazendo, clandestinamente, com bebês abortados do ventre de suas mães. Levantei, também, o grave problema das Normas Técnicas emanadas do Ministério da Saúde no Governo FHC e no atual Governo Lula: a dispensa do Boletim de Ocorrência nos casos de aborto em caso de gestação resultante de violência sexual contra a mulher. Acenei à Norma já publicada e em vigor, despenalizando o aborto no caso há pouco lembrado e de risco de vida para a mãe, pro dolor até o sétimo mês da gestação, quando o feto está perfeitamente definido, sendo viável a sua sobrevivência. Onde vamos parar, especialmente também se o aborto de anencéfalos vier a ser legalizado como exigem as feministas radicais de certas ONG’s como a petulante “Mulheres Católicas Pelo Direito de Decidir”?

Termino este emotivo depoimento lembrando a todos os médicos do Brasil, ginecologistas ou não, os termos do juramento de Hipócrates, feito quando de sua diplomação: “Eu juro... que não darei a nenhuma pessoa remédio mortal, ainda que seja por ela pedido, nem darei conselhos que induzam a destruição. Também não darei à mulher alguma substância ou objeto destinado a provocar abortamento. Manterei a minha vida com pureza e santidade. Qualquer que seja a casa em que penetrar, entrarei para beneficiar o doente, evitarei qualquer ato voluntário de maldade ou corrupção... Nunca me servirei de minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime... Se eu cumprir esse juramento, goze eu a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens para sempre. Se dele me afastar ou se o infringir, susceda-me o contrário”.Aos que ignoram, recordo que este juramento sábio é de um pagão que viveu quatro séculos antes de Cristo, filósofo grego nascido na Ilha de Cós (460-377 a.C.). É lamentável que no Ocidente, na Europa e também entre nós, não poucos médicos aborteiros estejam atentando contra a vida dos nascituros tornando-se co-responsáveis pelo crime e pecado do aborto, mesmo permitido nos casos previstos em nossa legislação. Os médicos católicos ou não-católicos, sensíveis ao sagrado direito dos nascituros, usem do seu direito de objeção de consciência, reafirmando-se fiéis ao juramento hipocrático com o qual iniciaram a sua mais que importante profissão. Não é uma questão apenas ética ou religiosa. É um problema eminentemente humano e de cidadania que não pode ser confundido com discutíveis medidas de “saúde pública” ou “direito da mulher ao próprio corpo”. Sempre está em jogo a vida de seres inocentes e totalmente indefesos que têm o direito de serem gestados com amor e segurança, o direito de realizar a própria missão no mundo.

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