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Publicado: Segunda-feira, 16 de abril de 2012

Batalha nos ares

Crédito: Juca Varella/Folhapress Batalha nos ares

Que saudades quando os problemas de acomodação em um vôo se resumiam a uma poltrona não reclinar ou ter que sentar-se no meio. Hoje, pela falta de espaço, cada vez que um passageiro reclina, a tampa do laptop é fechada e os joelhos atropelados. Por essa e outras, a briga entre viajantes e companhias aéreas por mais lugar dentro dos aviões está deixando de ser um drama para se tornar comédia.

O problema é que os atores involuntários desse filme são não só joelhos, mas também cotovelos, cabeças e colunas vertebrais.

Tudo começou com a busca pelas empresas aéreas por uma nova equação para encaixar mais gente em menos área nas aeronaves. Inventaram, então, mais poltronas por fileira. Para tristeza das pernas, o espaço no sentido horizontal foi reduzido, e, como má notícia aos gordinhos, a largura dos assentos diminuída. Como é impossível colocar dois corpos no mesmo espaço, foi preciso minimizar a inclinação e a espessura das poltronas.

Esgotada a capacidade de baixar custos, as aéreas foram atrás de outras fontes de renda. Resolveram taxar, entre outros, as refeições, até chegar às malas despachadas. Essa é uma tendência que veio para ficar, pois representou, só em 2011, um reforço de caixa de US$ 32,5 bilhões por ano, segundo a Amadeus.

A reação dos passageiros não tardou. Fugindo da cobrança, carregados de malas e pertences cada vez maiores, o embarque nos aviões de hoje lembra uma corrida de cavalos para apostar quem chega à frente para ocupar os compartimentos sobre os as poltronas, não projetados para tanto volume. Houve um aumento de 87% no número de passageiros que trazem para dentro do avião as bagagens nos últimos anos, de acordo com a United Continental.

Além da irritação, sobrecarga da tripulação e atrasos nos vôos, o viajante de negócios, principal cliente, passou a selecionar aeronaves que permitissem mais bagagem pessoal a bordo. Diante disso, as principais companhias aéreas norte-americanas resolveram ampliar o espaço dos compartimentos. Além disso, a Boeing passou a projetar interiores com mais lugar para esse fim. O que faltou foi bom senso. "Era só não cobrar a primeira mala despachada que as pessoas deixariam de trazer tanta coisa para dentro do avião", comenta com razão Robeli Libero, ex-presidente da IBM para a América Latina.

As ações tomadas pelas companhias áreas geraram outros efeitos colaterais. Com o encolhimento do espaço entre o passageiro da frente e o de trás, acabou-se o lugar para os joelhos, situação ainda mais dramática quando a poltrona da frente é inclinada. Para se defender das pancadas não anunciadas de maneira questionável, surgiu um apetrecho com o nome de "defensor de joelhos". Vendido por US$ 20 (GadgetDuck.com), ele fica preso à mesa de refeições e impede ao passageiro da frente reclinar a poltrona.

Quem não quiser adotar recurso tão extremo terá que conviver com vôos de longo alcance como os Boeing 777-300 da TAM, em que, cada vez que o vizinho da janela for ao banheiro, uma fileira inteira de passageiros é despertada para se levantar.

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 11 de abril de 2012, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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