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Publicado: Quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Bagagem indesejável

A "medicina do viajante" é uma subespecialidade que ganhou destaque e nova dimensão a partir do contínuo deslocamento de pessoas entre países e continentes.

Benefícios à parte, a globalização promoveu um efeito colateral pouco discutido, mas nem por isso menos importante. Trata-se dos problemas de saúde dos viajantes devido à exposição em locais de risco, alguns deles sujeitos a graves contaminações, algumas trazidas de volta para casa. Resultado direto da crescente multiplicação de viagens internacionais a todo tipo de lugar, essa bagagem indesejável exige medidas profiláticas adicionais. Fazem parte dessas precauções desde a simples vacinação e cuidados com a higiene até formas de evitar contágio por surtos de gripe, alguns sérios como o da suína causada pelo vírus H1N1, ocorrido em 2009. Esse tipo de preocupação impulsionou uma novíssima especialização: a "medicina do viajante".

O processo que começa a partir da decisão de tomar um avião para alguma parte do planeta poderia se dividir em duas partes. A primeira delas é identificar algum risco de saúde no destino. Isso pode ser feito por meio de sofisticados sistemas de segurança, como o Decision Source: Security Management, da agência de viagens corporativas BCD. A segunda etapa é prevenir e administrar o problema, segundo o infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Luiz Fernando Aranha Camargo.

O sistema da BCD, já adotado por 92% dos seus clientes globais, é uma plataforma de segurança e gestão de crises que permite minimizar riscos graças ao monitoramento do destino, análise de impacto e rastreamento de funcionários durante uma viagem, explica o presidente da empresa no Brasil, Jahy Borges.

Alertas de risco atualizados previnem em bases contínuas sobre o status de determinado local. Uma vez o passageiro embarcado, basta um clique para visualizar em um mapa mundial o itinerário e localização precisa na qual ele se encontra, com informações sobre as condições atualizadas sobre a segurança, clima e eventuais ameaças à saúde naquele local. Jahy destaca a utilidade da ferramenta não só em questões de saúde, mas também em emergências, como o fechamento de aeroportos europeus devido às cinzas do vulcão na Islândia ou a experiência do terremoto no Chile. Isso permitiu rapidamente achar profissionais e oferecer alternativas de seu retorno ou permanência até que a situação voltasse a se normalizar. Além da BCG, agências como American Express, CWT e HRG adotam sistemas similares.

Já a medicina do viajante, explica o infectologista Luiz Fernando Aranha Camargo, é individualizada e atende a ocorrências sazonais ou momentâneas. "É uma soma de medidas preventivas para pessoas que se deslocam para áreas pouco familiarizadas, que cobrem de conceitos gerais até doenças transmissíveis", afirma. As mais comuns se referem a orientações sobre a água e cuidados com a malária e febre amarela. Em países com maiores riscos de saúde, as recomendações vão desde uma rígida higiene que inclui o uso da água potável para beber até escovar os dentes, aplicação de vacinas até levar antibióticos para as quase inevitáveis diarreias.

A profissão de infectologista não é nova, diz o médico. A rigor, a "medicina do viajante" é uma subespecialidade que ganhou destaque e nova dimensão a partir do contínuo deslocamento de pessoas entre países e continentes – algo que tem o potencial de transformar surtos locais em epidemias mundiais quase que da noite para o dia. É que o viajante pode acabar trazendo para casa na bagagem alguma doença, o tipo de souvenir indesejável e nem um pouco saudável.

*Este texto foi publicado também na coluna "Viagens de negócio" no dia 14 de novembro, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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