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Publicado: Terça-feira, 28 de abril de 2009

Ayrton Senna da Silva! 15 anos de seu falecimento

Quinze anos sem Ayrton Senna! Aqui vai um depoimento, bem pessoal, sobre o piloto...
Eu comecei a saber o que era e gostar de Fórmula 1 no ano de 1980. Daí comecei a entender mais e considero que 1984 foi a primeira temporada que acompanhei com mais cuidado, vendo todas as corridas do começo ao fim. Por coincidência, 84 foi a estréia de Ayrton Senna na categoria. Posso dizer que, considerando todos os pilotos, a carreira de Senna foi a que acompanhei melhor. De suas 161 corridas disputadas, acho que só 2 eu não pude ver na totalidade.
 
Me orgulho de dizer que assisti todas as suas 41 vitórias. Algumas são inesquecíveis, como a primeira, naquela chuva em Portugal. Também foram legais as 3 seguidas em Detroit (86, 87, 88), onde começou a tradição de se levar a bandeira brasileira. Me recordo da vitória do título de 88, no Japão, e estava em Interlagos em 91, quando ele realizou o enorme desejo de vencer em casa. E, claro, não há como não lembrar de Donington, em 93.
 
Gostei muito dele no início da carreira. Depois, não mais. É interessante que ele nunca foi meu maior ídolo, mas também nunca fui “anti-Senna”.
 
Em 84, eu vi um jovem doido de vontade de pilotar. Um cara que estampava na face o prazer naquilo que fazia. E como fazia bem feito!! Os podiuns, as boas colocações nos grids, tudo isso com a Toleman. Eu sabia que ali estava um grande piloto. Naquele segundo lugar em Mônaco, eu me revoltei com a decisão da direção da prova, e me comovi com ele dando a volta depois da bandeira vermelha, comemorando, como se tivesse vencido!
 
Na Lotus, eu vi um batalhador, tirando tudo e mais um pouco de um carro que nunca foi o melhor da F1. Que grande lembrança seu primeiro triunfo em 85!! E os dramas quando sua gasolina acabava no finalzinho, depois dele ter lutado a corrida toda?? E é impossível esquecer sua alegria na primeira vitória em Mônaco, principalmente pelo banho de champanhe na família real.
 
Aí chegou 88 e a fase super vitoriosa na McLaren. Me lembro de quando ele bateu em Mônaco, quando corria quase um minuto na frente de Prost: eu, na única vez em minha vida, tive vontade de desligar a TV antes de uma corrida terminar.
 
E sei onde e com quem eu estava quando finalmente Ayrton Senna foi Campeão Mundial. Chorei com ele, vi a realização de seu maior sonho.
 
Daí pra frente, comecei a me decepcionar, e algumas vezes me senti como que traído. Senna me passou a impressão de ser um mal perdedor. Pior, apresentava uma certa auto-piedade, que não tinha nada a ver. Ele fazia parecer que o mundo estava sempre contra ele.
 
Suas comemorações pareciam treinadas, seus gestos e palavras cada vez mais calculados. Não existia mais aquele jovem, desarmado e feliz com o que fazia. Ele perdeu o encanto.
 
Para piorar, vieram aqueles episódios de briga com Alain Prost, lamentáveis. E o fim de tudo isso foi a batida, proposital, dele no francês, no GP do Japão de 90. Que raio de piloto era aquele??
 
Daquilo tudo, fiquei com a imagem que Ayrton Senna foi um piloto, mas não foi um desportista. Eu prefiro os desportistas!!!
 
No dia em que ele conquistou sua tão sonhada vitória no GP Brasil, eu estava lá no autódromo! A arquibancada quase veio a baixo, foi a maior festa que eu já presenciei em Interlagos! E eu me vi tão frio, tão distante daquela festa... ali eu senti que realmente o Ayrton Senna não me tocava!! Senti algo triste, por não conseguir se contaminar por aquele astral. E por perceber que um cara pelo qual eu me emocionei, com o qual eu chorei junto, uns 2 anos antes, não me contagiava mais. Naquela altura eu não conseguia compartilhar ou sentir nem um pouco de sua alegria.
 
Em 94 Senna foi para a Williams e em 1º de maio daquele ano, eu senti sua morte do mesmo jeito que senti a de Ratzenberger, um dia antes: era o desaparecimento de uma pessoa que fazia o que eu gostava de assistir. Fiquei triste, claro, pensei na sua família, mas não fiz parte da onda de comoção que tomou conta do país. Era o falecimento de um piloto, não de um ídolo.
 
Analisando sua carreira, creio que o Ayrton foi endurecendo, foi levantando cada vez mais a guarda, começou a desconfiar de tudo e de todos. Ayrton Senna da Silva foi tão importante na Fórmula 1 que chegou um ponto onde não se sabia quem influenciava quem...
Ayrton ficou mais duro por causa da Fórmula 1, ou a F1 ficou mais dura por causa de Ayrton Senna?? Os dois!!
 
A categoria, com sua falsidade, ganância e outros adjetivos ruins, marcaram o piloto. Por outro lado, o “estilo Senna”, onde só importava ganhar, moldou Fórmula 1. Ele colocou um novo parâmetro: não importavam as relações pessoais, o lazer, o certo era estar todos os dias mentalizando e agindo no sentido de se conseguir a vitória no GP seguinte.
 
Ficou a impressão de que quando finalmente estava relaxando um pouco, se dando o prazer de apreciar outras coisas que não os champanhes das vitórias, Ayrton Senna se foi.
 
Hoje, sinto e lamento sua falta. E me esforço para tentar não julgar suas atitudes e sim lembrar suas belas atuações. Nunca fui aquele super “Sennista”, mas costumo dizer que em pista, ou seja, disputando uma corrida de Fórmula 1, Ayrton Senna foi o melhor que eu vi!!! Pretendo um dia visitar seu jazigo e não sei qual será minha reação, mas provavelmente direi “obrigado” pelas grandes corridas, pelas grandes ultrapassagens, pelas grandes vitórias que ele me proporcionou assistir!
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