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Publicado: Domingo, 11 de novembro de 2007

Avanços

A tecnologia avança, com tal rapidez, que até o comum das pessoas teria capacidade de vir a ser um Júlio Verne moderno.
 
A fuga de estações climáticas indesejadas, de inverno ou verão, poderia encontrar guarida também nos diversos estágios do espaço, mais próximos ou mais distantes. Ônibus espaciais de linha regular correriam ao bel prazer dos interessados.
 
Meras pílulas supririam todas as exigências do organismo, de modo prolongado, sem quaisquer distúrbios.
 
A longevidade humana se espraia progressivamente e já agora um percentual significativo de seres humanos chega e ultrapassa os cem anos de vida.
 
Não há como, enfim, impor limites à criatividade humana e aos inventos sem fim. Sem dúvida, logo, logo, todos cruzarão os céus, cada qual sentadinho na sua cadeira-voadora, de lá para cá e de cá para lá.
 
A qualidade de vida e o progresso em tudo que diga respeito à saúde e ao lazer do homem, acenam, num primeiro momento, para um futuro promissor e perfeito.
 
Entretanto...
 
Entretanto, seja permitido aqui formular algumas perguntas:
Pode você deixar janelas abertas e sem grades, em sua casa?
 
No Rio de Janeiro, que “continua lindo”, movimenta-se você de carro, ônibus ou a pé, sem nenhum susto, pelas suas belas ruas e praias?
 
Bala-perdida, era uma expressão conhecida, usual e corrente nos anos sessenta e setenta?
 
A desoras, na via pública, em qualquer cidade brasileira, em local ermo, você se muda ou não de calçada, ao divisar na pouca claridade da noite que um vulto caminha na sua direção?
 
Bolsos de suas vestes, calças e camisas, continuam a servir de espaço seguro à guarda de objetos e de dinheiro?
 
Dorme tranqüilamente o sono dos justos, se os filhos saem exatamente na hora em que você se deita, para as baladas e que tais?
 
Em quantas famílias sobra tempo para um encontro ou diálogo, sem que os pais sejam ainda por cima escutados em silêncio, porque os filhos os consideram antiquados ou superados?
 
Dissemina-se ou não – conte você – o costume inovador de que a mocinha – ou o rapaz – tragam namorado ou namorada para passar a noite na sua casa, no mesmo quarto, e desçam manhã seguinte para o café em comum, com os pais silentes e, por isso mesmo, com cara de trouxas?
 
Era costume de todas as casas de católicos e se pergunta pois, se ainda existem nelas, em lugar de destaque, os quadros do Coração de Jesus e de Maria, solenemente entronizados?
 
Seria ou não fato notório de que nem se fala mais em entronização e que o local antes sacralizado pelas orações em família cedeu vez à entronização do aparelho de televisão?
 
Pedem os filhos a bênção aos pais, afortunada prática que o avanço e a modernidade postergaram?
 
O meio ambiente, aos poucos, não é deteriorado progressivamente pela ganância e pela desfaçatez dos homens?
 
Não estão o clima, o tempo, as estações do ano, completamente deslocados e descaracterizados, pelo convívio inadequado do homem com a natureza, criada por Deus justamente para sua sobrevivência?
 
Por fim, a esse desmoronamento de tudo e de todos, se pode classificar como avanço, felicidade e paz?
 
É melhor o mundo de hoje?
 
Seria mesmo um avanço?
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