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Publicado: Segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Assim nasceu a escola

Assim nasceu a escola
A Escola, na sua essência, é o espaço livre e divertido para exercitar o lazer de aprender!

"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!" 

A sensível história do pai e do filho, nas palavras de Eduardo Galeano, expressa a função da arte; na minha cabeça, a cena retrata o nascimento da escola.    

Bem antes do prédio, da lousa e das carteiras a escola já morava na alma dos educadores.  A palavra “escola” tem sua origem no conhecimento grego e quer dizer “lazer”. Os gregos entendiam que aprender era um divertido jogo prazeroso, por isso usavam os espaços livres para exercitar o lazer de aprender.   

A Escola, na sua essência, é o espaço livre e divertido dos gregos. Nela, o prazer por aprender fundamenta as relações pessoais. Assim, insisto e não desisto de dizer que escola é lugar de gente feliz.  Gente que ensina e gente que aprende num espaço com mais roda e menos parede, com mais riso e menos cimento, mais alegria e menos caderno. 

O professor com alma de educador sabe disso. E sabe, também, que a escola não está sozinha e que além da sala de aula muitos outros espaços podem ensinar. A cidade, a rua, o bairro, o museu, o teatro, o cinema e tantos outros cantos podem se transformar em espaços que educam. A famosa cidade italiana Reggio Emilia assim fez com a educação infantil: suas escolas ficaram do tamanho do mundo.       

Joana aprendeu as Letras na areia da praia. Ricardo descobriu a Geografia no campo para refugiados de guerra. Pedro aprendeu a Matemática no povoado de Dona Maria. 

Joana, Ricardo e Pedro foram tocados pelo olhar de Diego: o olhar que deseja aprender.  Rubem Alves, na sua admirável sabedoria, diz que “todos nós temos dois olhos. Com um nós vemos as coisas que se movem no tempo que passa e são logo esquecidas. Com o outro, as coisas significativas e mediadas, que permanecem pelo resto da vida.” 

O divertido jogo de aprender, advindo do conhecimento grego, inspira os aprendizes a olhar com os olhos das coisas que permanecem pelo resto da vida. E nessa diversão, possibilita o que há de mais bonito na aprendizagem: abrir as portas da curiosidade. 

Aliás, na minha imaginação, assim nasceu a escola: os olhos de Diego abriram as portas da curiosidade e com a ajuda de um educador, toda imensidão, fulgor e beleza do conhecimento foi compreendido.    

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