Às vezes eu me pergunto
Estava eu na academia esta semana quando vi uma mulher reclamando com o professor que o exercício que ele havia passado era pouco puxado. Fiquei pasma e estiquei as orelhas. Fiquei sabendo que ela tinha passado 18 dias num spa (não vou dizer qual é, porque achei de uma irresponsabilidade única), comido 600 cal/dia, malhado 4 hs/dia e perdido 6 kg no total. Ela não era nada magra, depois estava comentando que tinha engordado muito e resolveu fazer uma terapia de choque. Comentário dela mesma: aqui em SP não dá para fazer assim, tanto que ontem comi chocolate. Eu me pergunto por que? Para que?
Por outro lado, ainda na academia, me senti vítima de assédio moral. Além do aumento na quantidade de mulheres mais jovens (sim, eu sei, cada vez mais ou outros são mais novos) e mais bonitas, outro dia coloquei meu indicador para me identificar na entrada. Pois é, academia moderna é isso. Mas coloquei lá minha digital e apareceu na tela uma foto de homem e o nome Sergio. A alegação é que minha digital deveria ser parecida com a dele....mas eu sugiro que eles assistam os filminhos de detetive na televisão. Não é assim que funciona. Enfim, quando isso aconteceu comecei a falar no assédio e havia um candidato a aluno recebendo informações. Não sei o que ele achou.
Esta semana ainda me perguntei por que esta nova moda, no supermercado Pão de Açúcar, de pedir documento de identidade para comprar bebida alcoólica. Por acaso (não tirem conclusões apressadas nem maldosas) estive em 3 supermercados diferentes e comprei bebidas alcoólicas em todos (em dias diferentes). Só pediram documento no Pão de Açúcar, apesar de eu ter insistido em dizer que já era maior de idade. Não me consta que haja nova legislação. Aliás, encontrei um amigo corintianíssimo, que tem mais de 60 aninhos, que comentou ter sido parado numa blitz da lei seca no dia em que eles ganharam a Libertadores. Ele tinha bebido, tinha saído de casa para levar o filho ou a filha a algum lugar (portanto estava em roupa pouco apropriada para “fora de casa”, segundo ele mesmo), sem documentos mas aceitou soprar naquela coisa. Pois foi liberado imediatamente. Disse que, como estava alcoolizado, quase disse ao policial que seu equipamento estava avariado, mas ainda bem que se conteve. Se não, a manchete do dia seguinte seria....médico conhecido...Claro que ele e seus colegas de torcida estão já se preparando para a viagem ao Japão para a próxima disputa (ah, mas acho que nesse caso o consumo de álcool não será problema).
Outro amigo com quem encontrei me disse que voltou do Caminho de Santiago. Qualificou a experiência como inesquecível, que eu deveria fazer. Ele andou 30 km/dia, o que não me parece pouco. Contou que todos andam sós (mesmo casais se separam durante o caminho e se encontram no local de dormir) mas que ninguém está só. Ele é atleta, mesmo assim teve muitas bolhas nos pés, de ter dores fortíssimas ao levantar, diariamente. Mas ele conseguiu um esquema do qual eu nunca tinha ouvido falar, que deixava no hotel/pousada do dia sua mochila com as coisas de que não ia precisar no dia, num envelope o endereço próximo com 6 euros dentro, e encontrava todos os dias suas coisas no hotel seguinte. E ele só ficava sabendo do hotel seguinte depois de chegar ao do dia. Pelo jeito o espírito peregrino não era dos mais absolutos. Além dessa história, ele ficava em lugares diferentes daqueles albergues sobre os quais todo mundo comenta. Além disso, essa experiência tem algumas dificuldades, por exemplo não dá para mudar de idéia no meio do caminho. Se choveu, se cansou, se daria para andar mais... Que em todo o caminho há em hospedarias ou lugares para comer um “menu do peregrino”, preço fixo, muito bom, com muitas opções e incluída uma garrafa de vinho. Quando eu o conheci, ele era um apreciador de bom vinho. Nesta conversa, ele me disse que tinha parado de beber mas que, uma noite, queixando-se que vinha dormindo mal durante a viagem, um de seus novos conhecidos (cada jantar era com pessoas diferentes, que ele conhecia no dia, na hora) comentou que talvez um vinhozinho ajudasse. Segundo ele, dito e feito. Mas, de volta a São Paulo, parou de beber novamente.
Perguntei por que ele foi: desafio pessoal, nada religioso. Mas ele ainda respondeu que todos de uma maneira ou de outra acabam se sentido melhor, que todo mundo sabe porque está naquele caminho. Consta que há um pedaço bem perigoso, no Pirineus, mas que o caminho é extremamente bem sinalizado. Já houve uma época em que eu pensava fazer esse caminho, depois desisti rapidamente. Será que volto a me interessar?
E para terminar, adorei uma crônica que li na Veja São Paulo da semana passada, sobre algumas profissões desaparecidas. O título se refere ao crooner (para quem não sabe, na época o nome que se dava ao equivalente ao vocalista de um conjunto musical). Ele também fala de outras raças como o doleiro, o contrabandista, o vendedor de enciclopédias... Isso é quase uma análise sociológica, pois na época comprava-se enciclopédias (na casa dos meus pais havia a Barsa e o Caldas Aulete), como era difícil comprar dólares (inclusive para viajar) havia o doleiro (vendedor de dólares, no “cambio negro”) e como havia poucas importações muita gente tinha seu próprio contrabandista de bebidas, pelo menos. E essas contravenções davam status! Ele conclui com algumas profissões contemporâneas: técnico de informática (hoje, para algumas pessoas, praticamente imprescindível), passeador de cachorros, além dos diversos personals (!!!!).
Acrescento eu que essa história de personal, quando começou, ainda tinha algum sentido, como o personal trainer ou o personal stylist. Mas agora fala-se em personal diet, personal shop, personal qualquer coisa, às favas com a gramática inglesa.
Às vezes, eu me pergunto onde vamos parar, em Marte com a Curiosity? Tomara que chegar a novos mundos nos ajude a resolver velhos problemas, antes de criar novos.
Beijos nesse inverno inacreditável de 27 graus.
Boa semana!
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- ana maria malik