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Publicado: Segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As Satúrnicas VII

PECADO NOVO
 
Pecado novo? Pecado? Tem isso? Tem Certeza que vai escrever sobre isso? Rapaz... A própria Igreja Católica, nos últimos trinta anos tem se dedicado cada vez menos a esse assunto tão impopular... Pense bem... Você vai afugentar os leitores... Quem quer saber sobre isso, por que falar sobre isso? Que velharia... Cadê o teu gerente de marketing e imagem pública, cara?
 
Na verdade, esse texto nasceu do encontro insólito de três acontecimentos de natureza completamente diversa, na semana que passou. E minha obsessão, como o amigo leitor já sabe, é encontrar conexões invisíveis entre assuntos aparentemente díspares. (ou seriam conexões realmente díspares?)
 
Na quarta-feira, feriado nacional, dia da nossa independência, o grande destaque, esse ano, não foram os novos aviões de caça, e nem mesmo o fato de termos um presidente mulher... (sou velho demais, e gaúcho demais pra chamar presidente de presidenta)...
 
O destaque foi uma manifestação pública contra a corrupção no governo, que, segundo os órgãos de segurança pública, reuniu cerca de vinte e cinco mil pessoas em passeata, o que não é pouca coisa...
 
Vinte cinco mil pessoas saíram ás ruas de nossa Capital Federal, sob um sol escaldante e uma umidade relativa do ar na faixa de dez por cento, pra protestar contra a gatunagem da coisa pública que, apesar de ser crônica em nosso país (em nosso planeta, segundo alguns), vezporoutra transcende seus próprios limites (amadorismo da rapaziada nova, diriam os mais experientes...) e vaza por todos os poros de nossa indômita imprensa livre.
 
Até aqui “morreu o Neves”... Como dizem... (e “renunciou o Quadros”...) Assunto mais que manjado... Quem não lembra daquele personagem de nossa história recente, que foi eleito Presidente da República, á bordo de uma campanha de marketing inesquecível, cujo símbolo era uma vassoura? Aquele personagem patético que dizia que ia “varrer” os corruptos da política nacional, que foi eleito com o voto maciço da nossa classe média urbana, tão sedenta de moralidade, e que renunciou pouco tempo depois da posse, alegando a pressão insuportável de “forças ocultas”?
 
E quem não lembra daqueles barbudinhos... Aqueles... Que eram pobres trabalhadores... Imaculados... Virginais... Antes de se sentarem no trono faustuoso do poder... E que depois, mostraram não ser muito diferentes dos “demônios” capitalistas que os antecederam...
 
O velho pecado (vichy olha ele aí...) estava lá onde sempre esteve, nem se coçou com a conversa humanista e a fé materialista-histórica inquebrantável dos nossos novos santos-ateus... Transformou as suas boas intenções em pedra, assim que cruzaram pela primeira vez com o seu olhar sedutor e milenar...
 
Pensar é grátis, falar é fácil... Agora, fazer diferente meeeesmooo... Ainda estamos querendo ver, né?
 
Mas por quê? O que nos falta? Por que, na hora de colocarmos em prática a ética e a responsabilidade social que todos nós tanto apreciamos e pregamos, um monstro voraz e virulento como um tumor maligno nos envenena de desejo e consome nossa capacidade de sermos fiéis ao que dizemos e pensamos?
 
Que monstro é esse?
 
Quantas teses sociológicas, psicológicas, filosóficas, e econômicas já foram redigidas sobre o assunto? Quantas páginas em métodos de re-educação cognitiva já foram escritas... O cérebro humano foi mapeado, investigado, analisado... Quantas técnicas, tratamentos com as drogas mais revolucionárias da menina dos olhos da ciência contemporânea: a neuro-psiquiatria... Onde estão as provas, onde estão os fatos?
 
Tudo palha, como diria um outro santo, que passou a vida inteira debruçado sobre teses sociológicas, filosóficas, teológicas, etc... Tudo palha... - Ele disse... Tudo palha...
 
Quantas teses... Eu mesmo, zémané metido a sábio virtual, que não conhece nada e fala sobre tudo, já me manifestei, há duas “saturnicas” atrás (leia a crônica “Tatu Dentudo”) onde fiz um paralelo desse assunto, com a Física Quântica, e já disse o que tinha a dizer. Por que então, voltar a ele?
 
Na quinta-feira, lendo o fantástico “Sobre o que nos perguntam os grandes filósofos”, do filósofo polonês Leszek Kolakowski algo me chamou muito a atenção. Não que fosse algo novo, que eu não soubesse, mas, sabe quando você se dá conta de algo que já sabia, mas ainda não tinha percebido a real magnitude?
 
O que é? Veja... Até chegarmos ao século XIX, o século de Nietzsche, Kant, Hegel, Schopenhauer, esses caras, toda a filosofia, toda a especulação filosófica feita pela humanidade girava em torno de um único assunto: Deus. Ou, na melhor das hipóteses, da relação do Homem com o seu criador.
 
Ou seja, gigantes do pensamento ocidental, como Pascal, Leibniz, Espinosa, Guilherme de Ockham, e até (pasmén) Thomas Hobbes e René Descartes, passaram a maior parte do seu tempo, e dedicaram o melhor de si a entender melhor esta relação. E aqui, naturalmente entra a questão do pecado, pois este só existe no âmbito dessa relação.
 
Sim, eu também sei que vistos aqui do alto de nossa tão evoluída civilização, todas as outras que nos antecederam não passam de formigas.
 
Eu sei... Pensamento mágico, primitivo, Era das trevas... Eram das trevas... Eles... E nós, naturalmente, somos da Luz... Somos a própria Luz... As luzes que vêm, através da nossa deusa sublime e superior a tudo, a racionalidade, clareando toda a nossa natureza animal e explicando a NOSSA necessidade de termos criado o criador, para explicar pra nós mesmos, a aleatoriedade e o a-caos-o de onde viemos... 
 
Eu também sei... Leibniz, Espinosa, Platão, Agostinho, Tomás de Aquino, esses caras... Eram todos mal informados... Tiveram o azar de nascer na época errada... Antes de nós, os iluminados que entenderam tudo á luz da deusa razão que lhes faltava... Por isso perderam as suas vidas estudando bobagens tão atrozes quanto a existência de um criador, e a falta do homem para com ele: o pecado.
 
Se esses pobres imbecís estivessem vivos hoje, provave
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