As Satúrnicas IV
Tatu dentudo? (Tá tudo em tudo?)
Mais uma vez, a notícia “quente” da semana foi a corrupção, mais precisamente, denuncias e renuncias devidas ao vazamento de notícias ligadas a corrupção de altos funcionários do Governo Federal. Qual é a novidade em se falar de corrupção de altos funcionários do Governo Federal? Quem é que ainda não sabe que temos corrupção de altos funcionários no Governo Federal em nosso país?
Aliás, o problema é antigo e não se refere apenas ao nosso país...
Na primeira metade do século passado, o escritor argentino, Roberto Arlt já propunha que um político que quisesse se eleger, infalivelmente nas eleições, fizesse um discurso o mais objetivo e direto o possível...
A tese que o autor apresenta, com sua fina ironia, é a de que as pessoas já estão completamente desacreditadas e saturadas de políticos que falam em “honestidade”... Segundo ele, todos os candidatos a tudo, desde presidentes da república até síndicos de prédio se elegem falando em honestidade e “limpar a vida pública dos ratos e ladrões das gestões anteriores”, e depois o que se vê é a mesma novela novamente... Portanto, segundo o autor das “Águafuertes Porteñas”, a palavra “honestidade” já não tem valor nenhum, e um candidato que se apresentasse aberta e cinicamente falando a “verdade de seu coração” poderia canalizar os sentimentos da população, com sua sinceridade... Vejamos o discurso sugerido por Arlt:
“Senhores: Aspiro a ser deputado, por que aspiro roubar em grande escala e “arrumar o meu lado” o melhor e mais rápido o possível. Minha finalidade não é salvar o país da ruína em que se encontra por culpa dos ladrões sem-vergonha das administrações anteriores. Não, senhores... Não é esse meu propósito maior... O que desejo intima e ardorosamente é contribuir com o trabalho de saquear e esvaziar os tesouros do estado, aspiração nobre que os senhores precisam compreender, é a mais intensa e efetiva que habita o coração de todo homem que apresenta candidatura a nossa câmara legislativa”...
Bem, é uma tese a ser estudada por candidatos e marqueteiros...
Mas eu não sou nem uma coisa nem outra... Sou um estudioso da alma humana... Interessa-me conhecer esse tal de “Coração”, que não é exatamente uma bomba hidráulica responsável pela circulação do sangue... E confesso: essa tese do Arlt, apesar de brilhante, não agrada muito ao meu Coração...
Leio então, em um artigo “profissional”, escrito por um autor “profissional” (que é economista, e não escritor) em uma das revistas mais “profissionais” de nosso país, que apesar dos indícios, a tendência é a corrupção diminuir... O autor afirma (com base em dados estatísticos obtidos de forma “profissional”) que a corrupção é inerente ás organizações e aos seres humanos, e que o nosso desafio é ter atitude para reprimi-la... O autor afirma clara, cientifica e categoricamente que se formos todos mais “profissionais”, mais cedo ou mais tarde os corruptos irão para a cadeia, e que tudo então irá melhorar... E logo chagaremos ao “Nirvana- Tecno-Profissional” aqui na Terra...
Ler autores “sérios e profissionais” sempre traz serenidade ao meu Coração...
Mas... A serenidade dura pouco... Uma pulga fica aqui atazanando a minha orelha... (“Mardita purga”...)... A “purga” disse: “intonce... Dotor... si é só nóizim tê atitude e reprimí, apruquié qui nóizim não fizemu isso ainda?
Se algum dos senhores leitores souber a resposta, por favor, escreva aí no espaço dos comentários...
Seguindo em minha busca por algo que traga serenidade ao meu Coração amador, encontro um livro escrito pelo físico Amit Goswami, que é filho de um “Brâmane” hindu, e professor de Física Quântica em uma universidade canadense: “O Ativista Quântico” (lançado no Brasil pela edira Aleph).
Goswami, que ficou internacionalmente conhecido pela sua participação no filme: “Quem Somos Nós”, juntamente com Fitjof Capra e outros autores, vem construindo uma ponte entre a ciência contemporânea, e a espiritualidade.
Esses autores não estão se limitando a fazer uma tradução. Estão fazendo interpretações, e analogias muito interessantes. Estão trazendo a Física Quântica para o dia-a-dia e estão mostrando que seus postulados, ainda tão estranhos e misteriosos para a grande maioria das pessoas, já se encontravam presentes, com outra linguagem, em textos místicos muito antigos: Tudo está em tudo, ou ainda, há uma única e UMA consciência permeando todos os acontecimentos...
Goswami conta em seu livro, uma passagem onde um repórter ocidental entrevistando a senhora Mahatma Gandhi, perguntou a ela, como o seu marido era capaz de fazer longos discursos sem nenhuma preparação, totalmente de improviso. A senhora Gandhi respondeu: “ Bem, nós, pessoas comuns pensamos uma coisa, dizemos outra e fazemos uma terceira, mas para “Gandhiji” elas são todas a mesma coisa”...
Ou seja: Gandhi não precisava pensar nem preparar o que ia dizer, por que ele dizia exatamente a mesma coisa que ele era... Por isso seus discursos aconteciam naturalmente, e conquistaram o Coração de tantas pessoas... Os discursos de Gandhi não eram “papo caô”... Eram a sua realidade...
Esse é o assunto do livro de Goswami: Não podemos nos tornar Gandhis da noite para o dia, mas podemos adaptar uma visão prática visando essa prática... “Podemos construir em nossas consciências a transformação que queremos ver no mundo, pois a Consciência” é Uma e inter-comunicante”...
Mas... Então... Quer dizer que só teremos políticos honestos na medida de nossa própria honestidade?
Joguei essa questão no Twitter: Eu posso reclamar da desonestidade dos políticos, se sou des-honesto com minha namorada, ou com os meus parceiros de caminhada, ou com os meus credores, ou com os meus devedores?
- Tatu dentudo... Mesmo?
As respostas foram as mais variadas o possível...
E vocês, meus caros, o que acham? Qual é a relação de Roberto Arlt com o “economista profissional” e o Mahatma Gandhi? O que podemos aprender aqui?
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