As Satúrnicas II
Por que ela fez isso?
Quem tem seus olhos que veja... Só se engana quem quiser... Embora as vozes oficiais digam: “quem sabe” e “talvez”, a cantora Amy Winehouse é a mais nova integrante da galeria de jovens artistas que deixaram este planeta antes da hora, mortos por excesso de consumo de drogas, em meio á uma carreira ascendente e promissora... E nos deixaram com a pergunta entalada na garganta: Por que ela fez isso?
Ela tinha tudo prá ser feliz... Por quê fez isso? Era jovem, talentosa, rica, famosa, chique, fazia da vida aquilo que queria, tinha um trabalho criativo... Era uma celebridade... Viajava pelo mundo, comia nos melhores restaurantes, andava com as melhores roupas, nos melhores carros, dormia nos melhores hotéis, acompanhada do homem que ela quisesse...
Sua foto saia no MSN, na revista Caras, na “RollingStone”, “Vogue”... Seu Facebook tinha milhares de seguidores, o seu Twitterbombado... Ou seja, tudo o que qualquer mulher poderia desejar prá ser feliz... Por que, então, ela fez isso?
É claro que um batalhão de psicólogos já está á postos para explicar tudo... A infância, a mãe, a mãe... (quase sempre, a culpa é da mãe, por quase tudo...). Mas será que as explicações silenciam as vozes que ficam gritando em nossas cabeças: Por que ela fez isso?
Diariamente leio estatísticas estarrecedoras com os números do consumo de drogas pelo mundo... É uma avalanche... Diariamente, leio sobre novas drogas: mais “poderosas” e destrutivas do que as que existiam até então, e as expectativas da OMS (Organização Mundial de Saúde) para os próximos dez anos, são de deixar até o mais otimista “Polianico”, de cebelo em pé...
Mas esses são “loosers”... São os perdedores... São os “idiotas”... Os derrotados... Os incompetentes... Os “vagabundos” que não querem trabalhar, não querem se desenvolver e acompanhar o ritmo frenético desse nosso Admirável Mundo Novo que assistimos nos anúncios maravilhosos em 3D... Mesmo que os cálculos da OMS anunciem aproximadamente 15% da população do planeta, imersa em alguma forma severa de “adição”, nos próximos dez anos, esses são os perdedores... Os perdedores são perdedores mesmo, por isso eles se drogam até morrer, até virar um nada... Querem fugir... Da sua própria incompetência e mediocridade... Não gostam da realidade? Pois que se droguem até sumir da realidade, e deixem ela todinha pra nós, que estamos dispostos a fazer todos os sacrifícios que a vida pós-moderna nos exige... Deixem tudo pra nós... Que nós consumiremos tudo, nós queremos ser consumidores de tudo, queremos ser vitoriosos, queremos ser os cidadãos do mundo, desse mundo sem fronteiras e sem limites para o consumo e para os nossos desejos mais inimagináveis... “Loosers”, deixem tudo pra nós, que nós queremos tudo...
Mas Amy Winehouse não era uma “perdedora”... Ela tinha tudo... Tudo... O que qualquer mulher poderia desejar para ser feliz... Tudo... O que o nosso Admirável Mundo Novo tem para oferecer de melhor... Ela deveria estar perfeitamente feliz, como as pessoas que aparecem nos anúncios maravilhosos em 3D... Por que foi se consumir daquela maneira? Por que não contratou os melhores médicos?... Com especializações nos melhores centros neuro-bio-psi? Por que não fez terapia cognitiva até convencer a sua cognição torpe e doentia, de que esse mundo é um bom lugar pra se viver, e que todas as pessoas (tirando os “loosers”) são felizes, como num anúncio de carro esportivo? Por que não entrou num shopping Center chiquésimo de Paris ou New York (ou New Deli, ou São Paulo, ou Nairóbi, ou Montreal...) e consumiu milhares de dólares? Por que não arrumou um namorado “winner”, e passou com ele um mês inteiro em Dubai? Ela poderia ter feito todas essas coisas, que nós, simples mortais apenas sonhamos em fazer... (mas um dia ainda faremos!!!)
Não sei responder essas perguntas... Não escrevo esse texto para respondê-las, que não sei a resposta... Escrevo para compartir com você, caro leitor, a minha perplexidade... Talvez, existam mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã Psicologia Cognitiva... Talvez existam mais coisas em nós do que revelam nossas máquinas de imageamento cerebral... Ou a nossa ultra-hyper-triper avançada medicina neuro-psico-bio... Talvez... Talvez uma pessoa sensível e desamparada como Amy Winehouse, mergulhando alucinadamente em busca da dissolução e do nada nos revele alguma fissura, alguma rachadura que existe no edifício perfeito da nossa vida pós-moderna, e nos revele o quanto todos nós estamos pendurados por um fio de cabelo... Na “normalidade” e na felicidade-sem-fim deste nosso Admirável Mundo Novo da tecnologia e do Deus-Homem... Talvez... Algum dos senhores aí, que estão lendo esse texto possam me responder: Por que ela fez isso?
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