As Satúrnicas I
CONVERSÃO PERIGOSA À DIREITA
Não me canso de admirar a perspicácia, a profundidade e a amplitude da visão psicológica de Carl Jung.
Num momento em que (mais uma vez) estamos deslumbrados ante as possibilidades que as novas tecnologias nos apresentam, surge um “cruzado cristão” atirando sobre um acampamento de adolescentes indefesos e nos mostra, exatamente da maneira que ensinou o velho sábio suíço, que o homem de Neanderthal, ainda vive em nós, e muito mais perto de nossas consciências, do que sonha a nossa vã Filosofia. (Aliás, nada que uma boa briga de torcidas não nos mostre todos os Domingos...)
Mais uma vez sou obrigado a citar a frase brilhante do meu parceiro capricorniano, o Humberto Gessinger: “Você que tem idéias tão modernas, é o mesmo homem que vivia nas cavernas”... Você? Eu, tu, ele, nós, vós e eles... Todos nós que temos idéias tão pós-modernas, somos os mesmos homens que viviam nas cavernas, e basta uma crisezinha econômica mais forte pra mostrar do que somos capazes...
Basta uma crisezinha mais forte que cause um arranhãozinho no nosso “way of life”, o dito “mundo civilizado”, o coro dos “com-dentes”, pra gente ver o quanto eles (nós e vós) são e somos realmente “civilizados”... Para vermos, como dizia o velho e bom Roger Waters, o quanto patinamos sobre o gelo fino da vida moderna... Para vermos logo ali embaixo, nas águas escuras e geladas do lago do nosso coração, o dragão do ódio e da selvageria “tribal” mostrando os dentes... Para vermos quanto do Amor e da coragem de Jesus existem realmente em nosso “cristianismo”...
Basta uma crisezinha mais forte pra nos mostrar o quanto o velho mestre Gustave Le Bon, em seu seminal “Psicologia das Massas”, do começo do século XX tinha razão quando dizia:
Não são os templos que abrigam os ídolos mais temíveis, nem os palácios os tiranos mais despóticos. Estes, são fáceis de destruir. Os senhores invisíveis que reinam em nossas almas escapam a todo esforço e cedem apenas ao lento desgaste dos séculos.
E bota lento nisso...É verdade que sempre podemos encontrar o recurso de “tirar o nosso da reta”, afirmando (com base em dados “científicos”, estatísticas, etc...) que o ato é isolado, que o cidadão em questão tem algum “transtorno de personalidade” e coisas do gênero, podemos pesquisar a infância do “demente” e encontrar mil motivos e justificativas... A mãe, a mãe... A culpa deve ser toda da mãe... Freud explica...
Mas ... Será que explica? Será que explica mesmo? Será que sempre explica?
Ou será que apenas “tira o nosso da reta”, transformando o cidadão em questão num “louco”, num produto “estragado” do nosso admirável mundo novo da tecnologia e do bem-estar-sem-fim, que os anúncios maravilhosos em 3D anunciam?
Já estamos todos achando normal que algum bossal atire bombas na embaixada, mas no caso de Anders Behring Brevik, o norueguês (pasmén!!!!!) que abriu fogo contra mais de 100 adolescentes indefesos que se encontravam em um acampamento da juventude trabalhista de seu país, algumas particularidades me chamam a atenção...
Primeiro: o cidadão se diz e acredita que é cristão... Vejam... Temos aqui uma das maiores “engenharias do pensamento” já realizadas pela humanidade... Transformar o evangelho de Jesus, que só fala de Paz, compreensão, aceitação do diferente, em justificativa para o egoísmo, a intolerância e a covardia... É muito malabarismo...
Sim, eu sei que diversos imperadores romanos, cruzados sanguinários, papas papões de poder, ditadores fascistas, e o próprio “pop star” das trevas e da falta de amor, Adolf Hitler (aliás, já viram como tem bibliografias do “pequeno Adolfo” nas livrarias de um tempo pra cá?) se diziam cristãos, e usavam as palavras do Mestre para pregar exatamente o contrario do que Ele realmente ensinou... Mas... A essa altura do campeonato? Em 2011, quando já tem gente falando em “brainet”, uma internet de conexões neuronais unindo toda a humanidade, a uma-unidade, o cara vem exterminar os “mouros” em nome de Jesus? Realmente... Nós que temos idéias tão modernas somos os mesmos homens que viviam nas cavernas...
Segundo: O “louco” pertencia a uma organização “cristã” de extrema-direita de seu país, que não prega (pelo menos abertamente) a cruzada contra os mouros, mas na prática não está muito longe disso, e é atualmente a segunda maior força política na Noruega...(pasmén!!!) ou seja: o “louco” em questão não é um fato tão isolado assim...
Terceiro: O “louco” foi preso (ele mesmo ficou surpreso...)... A pergunta que não quer calar é: se ele fosse mais moreninho, tinha saído dessa com vida?
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