Colunistas

Publicado: Domingo, 19 de fevereiro de 2012

Archivum

O título é latino e a tradução é quase óbvia: arquivo. Ao criar o Museu da Música – Itu, seus administradores resolveram oferecer um nome sugestivo, que lembrasse a faina secular pela organização de documentos para preservação da memória, para servir de fonte à escrita da História.

Em 2007 o montante de documentos ligados à música, no acervo da instituição que tinha início, era grande, talvez, em torno de dois mil títulos, em vinte coleções, material à espera da devida higienização e possibilidade de fácil acesso para quem quiser pesquisar.

Com pequeno recurso e pessoal, o processo de organização se deu lentamente. A ação voluntária, dos primeiros meses foi substituída pela prestação de serviço de jovens músicos, possível somente pelo patrocínio do Instituto Cultural de Itu, que produziu bens culturais, oferecidos à comunidade para sustento da iniciativa. A estratégia, que tem dado certo até hoje, permitiu a organização de trinta e cinco coleções de partituras de músicos de Itu e região, hoje dispostas em pastas e armário adequados.

Entre 2008 e 2011 quinze novas coleções foram agregadas ao museu, somando em torno de seis mil títulos, cerca de dez mil documentos. A confiança que a comunidade depositou no Museu da Música – Itu mereceu a ampliação da equipe de trabalho.

Em meio às doações novas, encontramos partituras originais autógrafas de seus autores, a mais antiga, de Elias Lobo, datada de 1855. Também há raras cópias, feitas por músicos atuantes em Itu, como Erothides de Campos, Anísio Belculfinè, Cyro Rocha e Luís de Francisco.

O Archivum guarda coleções inteiras de instituições que não são mais atuantes, como o Coro da Igreja do Bom Jesus (1899 – 1992) e de figuras expressivas na música ituana no século XIX, como João Pedro Correia, organista da Igreja Matriz de Itu, mostrando a evolução da música sacra nas igrejas ituanas. Há também um número grande de músicas populares, música marcial e obras do repertório erudito europeu.

Apesar de mantido por instituição associativa não governamental, todo o acervo do Museu da Música – Itu é público. Portanto, as coleções de partituras estão prontas para acesso de pesquisadores. Dentro da própria instituição já tem sido feita pesquisa de repertório e promoção de eventos para a comunidade. Em 2008 o Museu restaurou a partitura original dos Motetes para a Procissão de Passos, de José Mariano Costa Lobo (1857-1892), permitindo que ela seja tocada e cantada, na semana santa, sem as alterações feitas no século XX. Da mesma forma possibilitou a primeira audição de inúmeras obras de Elias Lobo e Tristão Mariano, em cerimônias, concertos e saraus.

Em dois saraus foi possível revelar a obra de Elias Lobo para canto e piano, peças escritas no Rio de Janeiro e São Paulo, muito apreciadas em seu tempo, maioria impressas por editoras daquele tempo (final do século XIX).

As exposições A Noite de São João e Seresteiros de Itu foram acompanhadas de sonorização produzida pelo Museu, com obras dos autores locais.

O maior objetivo do projeto Archivum é garantir a preservação do acervo de partituras da cidade e das cidades da região que não contam com instituição para esse fim, sobretudo tornando-as conhecidas, fazendo dessas obras e seus arquivos, um patrimônio vivo, que de fato pertença à comunidade. Para tanto o museu tem realizado concertos, palestras, encontros, visita de alunos, dando a conhecer o que já está devidamente preservado e recuperado. Permite também que jovens músicos e cantores atuem, abrindo espaço para a ligação entre o patrimônio e a atualidade. Só por isso já valeria a pena a existência do nosso Museu da Música - Itu. Fica o convite, para que os leitores conferiram as iniciativas da instituição.

Comentários