Aquecimento Global: verdade ou consequência?

Polêmico desde 1988 quando o congressista norte-americano James Hansen alertou o público dos perigos relacionados a ele, o aquecimento global é hoje aceito como real pela grande maioria das instituições e grupos de pesquisa. O fenômeno é causado por nada menos que a intensificação do efeito estufa devido ao da concentração de determinados gases na atmosfera, são os chamados gases do efeito estufa, entre eles o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso cujas principais fontes são atribuídas particularmente à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento.
No filme “Uma Verdade Inconveniente” o ex vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore argumenta que diversos eventos catastróficos ocorrem atualmente em todo o mundo como consequência da alteração de parâmetros que mantém o equílibrio do clima global por conta do aquecimento da temperatura do planeta. Tais eventos incluem, entre outros, o furacão Katrina, as intensas ondas de calor na Europa, as inundações na China e o derretimento das geleiras do Monte Kilimanjaro. O filme ressalta que esses fenômenos serão cada vez mais freqüentes e violentos, citando inclusive que sempre foi considerada impossível a formação de furacões no Atlântico Sul, mas que, em 2004 inexplicavelmente, o Brasil foi atingido pelo furacão Catarina.
A imagem acima é a capa da revista Bloomberg Business Week publicada na última semana de outubro em Nova Iorque, a notícia de destaque aborda aquele que vem sendo considerado por alguns como apenas mais um destes eventos climáticos anômalos. O título diz "É o Aquecimento Global, Idiota" em referência a passagem do furacão Sandy pela costa leste do EUA.
Sandy, com ventos de cerca de 130 km/h, atingiu o solo por volta das 22h (horário de Brasília) no dia 29 de outubro e trouxe perdas irreparáveis a região, foram mais de 80 mortes, prejuízos econômicos que já atingem a casa dos $50 bilhões de dólares, 8 milhões de residências ficaram vários dias sem energia elétrica e aquecimento além de centenas de milhares de pessoas que foram evacuadas.
Indagada esta semana sobre o dia a dia das pessoas após a passagem do furacão, Regina Berkowitz, brasileira que reside em uma das cidades afetadas pelo furacão afirmou: "Ficamos 6 dias sem energia elétrica e aquecimento e outros 9 sem acesso a internet, em pleno inverno americano".
Embora alguns grupos céticos ainda afirmem que o evento climático nada teve a ver com o aquecimento global ou então que ainda não existem dados suficientes para realizar qualquer tipo de correlação, o fato é que o ciclone pós-tropical Sandy jamais teria se tornado uma super-tempestade SE não tivesse colidido com uma massa de ar frio que se deslocava do ártico passando pelo Canadá e indo em direção aos EUA, foi exatamente o choque com esta frente fria que aumentou de forma drástica tanto a precipitação como a velocidade dos ventos.
Coincidentemente os cientistas Charles Greene e Bruce Monger da Universidade de Cornell haviam publicado em junho deste ano um artigo na revista Oceanography abordando justamente este tema e apresentando evidências de que o degelo no ártico associado ao aquecimento global poderia contribuir significativamente para o deslocamento de massas de ar frio do ártico para o sul dos EUA ao longo da costa leste país, o que poderia consequentemente causar alterações em eventos climáticos no país.
Greene e Monger não foram os únicos a alertar sobre a influência destrutiva que o aquecimento global poderia exercer sobre o clima local, alguns meses antes, o especialista em mudanças climáticas Michael Oppenheimer da Universidade de Princeton, já havia anunciado que as inundações que em outros tempos costumavam atingir a cidade de Nova Iorque apenas uma vez em cada século, passariam a ocorrer em um intervalo entre 3 e 20 anos devido ao aumento do nível do mar, mais uma consequência do aquecimento do planeta. O próprio Oppenheimer e outros pesquisadores vem alertando há exatamente 12 anos sobre os riscos da ocorrência de tempestades e enchentes na cidade, inclusive com a elaboração de um relatório federal onde os cientistas alertavam especificamente sobre estes riscos.
O NOAA (Instituto de Estudos Oceanos e Atmosféricos dos EUA) divulgou um estudo em 2010 que já apontava que o aquecimento global poderia incrementar a potência de furacões.
O instituto previu que eventos como furacões se tornarão cada vez mais escassos mas que por outro lado os poucos que ocorrerem serão muito mais intensos, cerca de 20% maiores atingindo uma área de alcance de até 100 quilômetros a partir do seu epicentro, tal como o Katrina, que deixou cerca de 1.800 mortos. Segundo a mesma instituição tais alterações nos padrões de ocorrência de furacões estão diretamente relacionadas ao aumento da temperatura da água dos oceanos, ao maior volume de chuvas e as ondas maiores.
Para Richard Muller coordenador do projeto "Berkeley Earth Surface Temperature Project" e um ex-cético da teoria do aquecimento global, o aquecimento global é real e a humanidade é quase que totalmente responsável pelo fenômeno.
A hipótese de que o aquecimento da Terra é fruto da ação humana foi confirmada, com mais de 90% de probabilidade, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Os cientistas do IPCC ressaltam que até o final deste século a temperatura na Terra vai aumentar em torno de 3 a 5ºC, caso não ocorra uma redução imediata da emissão de poluentes. E ainda, que o aquecimento global será a causa do derretimento de geleiras e do conseqüente aumento do nível do mar.
É importante frisar que tais eventos catastróficos NÃO devem se restringir aos EUA ou a Europa. Segundo Edmo Campos, professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador do Projeto Pirata (criado para observar o Oceano Atlântico), se o aumento exponencial da temperatura das águas do Atlântico Sul (situado entre América do Sul e África) persistir, o Brasil deverá em breve tonar-se alvo de eventos extremos, tal como furacões.
Como muitas sociedades antigas que se extinguiram devido a alterações do clima global, nós somos extremamente vulneráveis. Por&eacut