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Publicado: Segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Aperto os cintos, o espaço sumiu

Diante de insistentes reclamações de passageiros sobre a falta de conforto e espaço dos assentos nos aviões de carreira, a Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC resolveu entrar em ação. Munida de pesquisas e avaliações, a sua meta é tornar obrigatório nos próximos meses a qualquer companhia aérea brasileira que opere voos regulares domésticos e internacionais informar o espaço útil em seus aviões com mais de 20 assentos, explica Carlos Eduardo Pellegrino, Diretor de Operações de Aeronaves da agência. À falta de espaço das poltronas, dois fatores não menos importantes, como saúde e segurança do viajante, foram decisivos. “Há muito se criou o termo ‘Síndrome da Classe Econômica’ como referência aos problemas físicos sofrido por passageiros. Entre eles há o decorrente da permanência na posição sentada em viagens longas, que provoca o acúmulo de líquidos nos membros inferiores podendo causar uma trombose circulatória. Forma-se um coágulo que pode obstruir um vaso sangüíneo e impedir a passagem do sangue levando à morte por embolia pulmonar”, explica Afranio Ziolkovski, especializado em Medicina Aeroespacial. Para ele, passageiros sedentários, obesos, fumantes, portadores de doenças como diabetes, insuficiência cardíaca, miosites, traumatismo recentes, usuários de antidepresssivos,  mulheres grávidas ou que usam pílula anticoncepcional, são candidatos naturais a desenvolver esta síndrome. Ou seja, um risco que atinge quase todo mundo. “Esta a segunda causa de mortes dentro de aviões”, complementa Kate Hanni, responsável pelo movimento FlyersRights, que lidera uma ONG em defesa dos direitos dos passageiros nos Estados Unidos.

Como evitar este grave problema? Ziolkovski recomenda ao passageiro fazer movimentos constantes com os pés e as pernas enquanto estiver sentado, e a cada 40 minutos levantar da poltrona para alongar os membros e caminhar pelos corredores do avião. Mas como fazer isto em um espaço que cada dia mais acanhado? O médico orienta também beber muito líquido durante o vôo. Isto se mostra na prática como inviável, pois exigiria todos se levantem simultaneamente e com freqüência. Além disso, significaria solicitar aos ocupantes de assentos vizinhos se levantar para dar passagem devido ao espaço exíguo. Sem falar na sobrecarga do serviço de bordo não estruturado para atender tantos pedidos de água, além da conseqüência biológica de ampliar as filas dos raros banheiros da classe econômica – uma média de um para cada 60 passageiros - diante da diurese provocada pela ingestão de tanto líquido adicional. Há ainda um segundo problema que motivou a intervenção da ANAC, este literalmente de vida ou morte, que  é a orientação de testar a capacidade de todos os tripulantes abandonarem uma aeronave em até 90 segundos por apenas um dos lados das portas de emergência. “É óbvio que quanto maior o adensamento de pessoas entre assentos, maiores as dificuldades de sair, especialmente em poltronas próximas à janela, conclui Kate Hanni.

Embora o encolhimento do espaço dentro da classe econômica não seja um fenômeno exclusivamente brasileiro, coube à ANAC o pioneirismo mundial de classificar os assentos por etiquetas. A meta é atender o viajante médio, que tem entre 55 e 65cm do glúteo ao joelho, conforme  pesquisa realizada em 20 aeroportos do país e com 22 modelos de assentos utilizados pelas principais companhias aéreas do Brasil. A intenção não é estabelecer um padrão ou regulamentar o assunto, mas   permitir ao consumidor saber exatamente o que está comprando, e qual o espaço terá disponível nas poltronas do avião. “As empresas serão obrigadas a informar o passageiro para que ele possa comparar e decidir com qual companhia prefere viajar. A etiqueta e o selo também vão motivar a concorrência entre as empresas, já que além de preço, rotas e serviços, o espaço entre as poltronas também será considerado pelo consumidor”, explica Pellegrino, da ANAC.

Nem sempre foi assim. Houve uma época, não faz tanto tempo assim, que viajar de avião era um luxo reservado a poucos privilegiados com poder econômico. Homens e mulheres elegantes em seus melhores trajes eram vistos nos aeroportos acompanhados de séquitos – assessores para as viagens de negócios, familiares para as saídas de lazer. Recebidos com pompa pelos agentes de terra e tratados como reis dentro das aeronaves, os serviços de bordo irrepreensíveis e refeições que disputavam com os melhores restaurantes faziam o ato de voar um requintado prazer. Com a disseminação da aviação e a democratização ao seu acesso, o panorama se alterou para sempre. Some-se a isto nos últimos anos o surgimento da filosofia low cost low fare, uma gestão que prioriza os preços baixos. Em contrapartida, degrada o serviço de bordo e otimiza o espaço das cabines, já que traz muito mais passageiros para dentro de cada aeronave. Adensados a níveis inimagináveis no passado, os aviões tem se transformado em ônibus urbanos com asas.

Para adaptar-se aos novos tempos, as companhias aéreas do mundo inteiro precisaram se reinventar para não fechar suas portas. No Brasil não foi diferente. Tanto a Gol como a TAM, as duas principais concorrentes, seguiram os mesmos passos. Por exemplo, o Boeing 737 700 da Gol que em épocas mais douradas possuía 137 lugares passou a operar com 189 passageiros. Da mesma forma, o A320 da TAM, projetado para transportar 150, agregou mais 37 passageiros à cabine. Até empresas menores como a Webjet, que tentaram oferecer em seus modelos mais antigos 737 300 espaço maior combinado a boas tarifas e serviços diante da baixa lucratividade, sucumbiu ao novo patamar de configuração. Atendendo recomendações da consultoria da RyanAir, a s radical low cost low fare europeia,  entre outras medidas, agregou 18 assentos aos 132 já existentes. Mas pelas leis da física, se não é possível ampliar a estrutura das aeronaves, a metamorfose exige que mais gente ocupe o mesmo lugar. O resultado já se conhece: sobrou para o usuário, que involuntariamente foi convidado a compartilhar espaço com mais passageiros.

Vale aqui um registro: este não é um assunto popular para a maioria das companhias aéreas, que prefere tratar detalhes da configuração de assentos como segredo de estado, e com raras exceções sequer se deu ao trabalho de responder às consultas feitas para esta matéria. Elas têm uma forte razão para agirem desta forma. A redução de espaço interno, que se faz pelo menos de cinco formas diferentes, torna-se proporcionalmente mais perversa ao conforto do passageiro conforme se combinam. O primeiro destes fatores é com certeza o ma

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