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Publicado: Quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Antonio e Isolina: uma história de amor

Crédito: Domínio Público Antonio e Isolina: uma história de amor
 
Antonio de Oliveira Rocha e Isolina Martins Ribeiro fugiram da fazenda Ingá-Mirim, na Estrada Apotriba, Bairro Pedregulho. Perambularam durante três dias, antes de serem encontrados em Ytu pela polícia, num frio de sete graus e meio.
 
Sob o título de “Ratoeira”, a pequena nota na primeira página do periódico “Município de Ytu”, de 12 de março de 1916, pouco revela. 
 
A polícia que “não gosta de ver pessoas estranhas a palmilhar pelas ruas, sem uma ocupação certa (e) diante da queixa feita pelo pai de um dos jovens, tratou de legalizar a vida dos fugitivos, depois de remover o impedimento que trata o parágrafo 6º do art. 7º do Decreto 181, de 24 de janeiro de 1860” (sic). O Decreto, na verdade, é de 1890. 
 
O obstáculo citado refere-se á proibição do casamento do “raptor com a raptada, emquanto esta não estiver em logar seguro e fóra do poder delle” (sic). 
 
Numa época de disputas político-religiosas, controle moral e casamentos arranjados, fugas e raptos eram o jeito de escapar às regras.
O Decreto nº 181, de autoria de Ruy Barbosa, reconhecia como legal somente o casamento civil e foi regulamentado pelo governo provisório da República. 
 
Uma de suas finalidades era a de retirar os poderes da Igreja Católica sobre a nupcialidade, com a separação entre Estado e Igreja. 
 
Outros temas como a liberdade de culto, o casamento civil e sua extensão aos não-católicos (casamentos mistos) e a secularização dos cemitérios faziam parte do pacote de medidas.
 
O clero considerou a nova ordem como uma afronta aos direitos dos católicos e um atentado à liberdade da sociedade. A união civil era vista como uma ofensa aos bons costumes da família cristã. O matrimônio sem as bênçãos da Igreja significava que o casal viveria em pecado e sem reconhecimento social. 
 
Procurados no século 21, aparentemente Antonio e Isolina não deixaram rastros de possíveis descendentes, nas fazendas ituanas desmembradas da velha Ingá-Mirim. 
 
Tomara que o amor tenha vencido. 
 
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