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Publicado: Sábado, 3 de abril de 2010

Amor, vida e morte

Amor, vida e morte
Só a incerteza pode nos manter vivo e motivado...

Questionar a vida e o seu sentido é muito comum, principalmente na juventude, quando desejamos encontrar alternativas na construção de um mundo diferente.  Talvez mais justo, mais humano, mas certamente muito sonhado. 

Todos nós guardamos as lembranças de uma época colorida de esperanças e certezas.  Do sentimento de alegria a nos possuir e de euforia a nos escravizar na busca constante pelas verdades absolutas. É o período da convicção plena, da crença extremada, dos ideais, das tribos e guetos. E de muitos perigos. 

Mas a maturidade salutar é equilibrada e com ela aprendemos que não existem respostas lógicas para as lições que só a vivência nos permite aprender. É quando compreendemos o comportamento dos nossos pais e alcançamos com clareza inquestionável o sentido dos seus conselhos. É quando nos percebemos (re) interpretando a história e ouvindo ao fundo, a voz de Elis Regina a nos cantar: “... minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.”    

Por isso a maturidade se relaciona com a sabedoria. É preciso uma boa coleção de aniversários para compreender, ou melhor, aceitar o sentido do amor, da vida e da morte. Ainda assim essa compreensão não é lógica, linear e permanente como gostaríamos que fosse.  Em muitos momentos, mesmo depois de “apagar tantas velinhas”, a vida parece nos questionar, conduzindo-nos a outras respostas, a outros e novos sentidos.   

Ainda bem. Só o movimento da incerteza pode nos manter vivo e motivado. Não saberia viver à deriva das águas calmas e rasas. Quando me percebo nessa condição, sei que é chegada à hora de partir. Preciso do prazer e da vontade em ebulição para sentir-me viva, capaz e suportável.  Maktub! Já estava escrito no Livro Sagrado: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca. (Ap. 15)” 

Foi assim que escolhi a religião: ser e estar por inteiro. Só estamos por inteiro quando escolhemos com a mente e o coração. Peter Senge, o mago da “Quinta Disciplina”, diz que “quando você faz uma escolha conscientemente, você fica mais afinado, em todos os níveis, com as oportunidades que passam à sua frente. Você fica mais disposto a correr riscos e tem mais clareza ao avaliar esses riscos”. Ele tem razão. 

Escolher com a mente e o coração demanda coragem. Geralmente são escolhas fora do padrão; fora da mesmice... quebra de paradigmas. Por isso incomoda tanto. E assusta.   

Mas nada disso importa. Quando estamos seguros das escolhas que fizemos, somos exatamente o tipo de pessoa que queremos ser; fazemos aquilo que realmente queremos fazer e enfrentamos os sentimentos... sem medo e preconceito. Essencialmente sentimento, como a saudade louca da mãe que já morreu. E como as palavras de Clarice Lispector, de que “há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la”. 

Amor, vida e morte são experiências interconectadas, interdependentes. Compreendê-las na essência requer disposição e sentimento, maturidade e sabedoria, verdade e coragem para assumir que diante da morte de alguém que você ama, “a vida – tudo que se fez e se disse, ou o que deixou de ser feito ou ser dito - passa várias vezes pela cabeça com uma definição de cinema. E com uma crueldade de Juízo Final, porque não há mais tempo para dizer ou fazer o que faltou.”

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