Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 29 de abril de 2013

Amor Pleno

Amor Pleno
"Amor Pleno" mais um belíssimo filme de Terrence Malick

Terrence Malick sempre foi um diretor fascinante, primeiro pelos seus filmes sempre surpreendentes e depois pelo ritmo da narrativa e o peculiar uso da câmera “steadicam”, que é mais presente em seu penúltimo filme, “Árvore da Vida”, e no seu último filme, “Amor Pleno”.

É incrível a narrativa que Malick consegue criar usando apenas momentos da vida de um casal e claro que a narrativa é contada pela fotografia do filme, que é uma das coisas mais lindas que eu vi esse ano, tirando “O Mestre”, do diretor Paul Thomas Anderson. Mas favoritismo a parte, Malick faz você sentir cada sensação que seu personagem sente, suas atrações, seus conflitos e medos. Tiro destaque para como ele é focado, não pela historia do casal, e sim pelas emoções. Por exemplo, se o casal está alegre ou triste, na mesma cena você descobre o jeito deles de se lidar nas brigas que na maioria das vezes é explosivo.

A trama começa pela França e mostra o casal Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko). Neil tem um começo interessante junto com Marina e logo propõe que ela e sua filha, Tatiana (Tatiana Chiline), irem morar com ele nos Estados Unidos. Quando eles se mudam para América quase não se tem diálogos nas cenas, apenas ações dos personagens ou algum som que eles soltam para dizer algo simples, como estou com fome e etc. A trama pode aparecer bem arrastada e difícil de acompanhar, mas vale a pena. Ao ponto de você entrar de cabeça nos problemas do casal, Marina é uma pessoa muito apaixonada tanto por Neil como por Tatiana, mas Neil é uma pessoa fria e não se entrega facilmente a essa paixão. O resultado disso são as brigas constantes entre o casal, Tatiana não se acostuma com América e pede para ir embora para a França e Marina vai junto, se cansando de Neil.

Um fato interessante do filme é que o protagonista é o Neil, mas toda vez que ele está em cena, a câmera pega ele de costas ou só pela metade, não sabendo bem suas reações perante sua mulher e isso deixa um enigma sobre sua verdadeira personalidade e suas reais intenções. Quando Marina vai embora, Neil retorna com a sua antiga namorada, Jane (Rachel McAdams).

Jane é uma garota rica. Mesmo não mostrando a história passada dos dois, você percebe que ela é uma garota diferente, primeiro por ser mais ligada a natureza e essa personalidade de Jane proporcionar cenas lindas ao meio do oeste americano. São cenas que você fica bobo de como é bonito algumas regiões dos Estados Unidos. Jane se apaixona novamente por Neil e ele também se apaixona por ela, a prova disso é como eles se relacionam facilmente diferente de Marina onde cada conversa era um drama pesado. Apesar do filme não ter diálogos que identifiquem quem os personagens são em si, ele é cheio de narrações que só aumentam o mistério sobre o que Neil pensa sobre as duas pessoas que eles se envolvem.

O filme retorna com pequenos “inserts” sobre Marina e uma narração, em que ela está dizendo a Neil como está sua vida longe dele e da América. Ela diz que precisa voltar e pede para ele se casar com ela em troca do “green card”. Em um ato de fidelidade, ele larga Jane e retorna com Marina, é claro que com duas personalidades totalmente diferentes, eles brigam, ela o trai. No terceiro ato, você sente uma seca, um mal entre os dois, um descontentamento visível na cara dos dois.

Na parte final você não sabe identificar o que realmente acontece, com Neil e Marina. E acho isso muito bem feito, porque o filme todo não é focado no futuro ou alguma construção de uma família. Algo como o que estamos sentindo agora, o que somos nesse momento, e isso é belíssimo. É difícil você conseguir se desgrudar de um futuro ou se encher de expectativas para poder viver o agora.

Malick realmente não faz filmes fáceis nem facilita para o espectador, talvez “Amor Pleno” não agrade o grande público, mas para quem já conhece o diretor ou é apaixonado por filmes vai se deliciar com a trama, atuação e a direção soberba desse grande diretor - vale à pena citar que ele também escreveu o filme.

Mas insista em vê-lo, pois assim como o amor, o filme também não é fácil.

Comentários