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Publicado: Quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

Almejando inalcançáveis infinitos...

Sinto, com aguda intensidade,
Quando a pressentir a sutileza das coisas
Que avassalam ou se avizinham,
Não há já como negá-las.
Minto, se não as pinto, em recorte claro e distinto,
No alvorecer do acaso ou das instâncias,
O panorama real das circunstâncias.
Ressinto, se for negro ou tinto
O corolário das algemas,
Ao rebrotar das penas e dos temas
Que sem controle, desfilam libertáriamente
Em forma prosaica ou em poemas
Pelo âmago do sentir,
ao adivinhar, afirmar ou tentar negar-lhes piso, vôo, assentimento ou sentido.

Por quê afinal pressinto panoramas e os pinto, sinto, minto, ressinto
e me pergunto ou afirmo ao agitar da consciência?
Tudo, quiçá, para compensar, entender, compenetrar-me, talvez convicto de que fui gerado, sem participar,
Em consciência ou sem ela,
Dos atos, ilusões, sonhos, decisões ou simples acidentes,
Dos que amando me fizeram,
Sem me prevenirem, avisarem, consultarem,
Ou acaso comigo em hipotético amável e responsável diálogo, previamente estabelecido, conversarem,
Mas que contudo, de fato, inegavelmente me legaram, leal ou aleatoriamente o que não pedi
Ou porventura em consciência jamais ambicionara, porém ao foro íntimo, em compreensão humilde, por outra cordata solução não haver, tanto lisonjeia, conforma, identifica, conforta, fortalece e gratifica.

E em inconseqüente peroração, aqui estou, legítima expressão de amor, sentimento onde a lógica raramente pode ser encontrada, a tentarem-me com humano, inusitado e comum bom senso convencer de que o que sou ou não, acaso o sou ou não sou, por livre arbítrio ! . . .

Mas sem dúvida nenhuma, os que amando me fizeram ou geraram com amor,
não me amaram por mérito ou demérito algum,
Além do próprio amor almejando infinitos, no que pudessem porventura alimentar ou arquitetar,
Como o que em primícias, amor autêntico jamais nega, tropeça, empaca, encontra
Ou se concentra, em parâmetros da razão, da sem razão abundante fora dela;
nos admissíveis prováveis passíveis ponderáveis ou imponderáveis possíveis impossíveis;
Em templos belamente ornados, adornados, ordenados, decorados, com soberba arte
E flores e velas e santos dourados, de pés de barro finitos;
Projetando-se delírios, convicções, certezas, convenções, grandezas, torres de marfim ou voluntariosas,
Ciclópicas pirâmides,
Construídas na areia sem alicerces, sem qualquer auxílio de sólidos andaimes;
Profusos contextos, em tempos de cólera, saudável virtude ou férreo arcabouço;
Inquebrantável vontade
Nos ventos de crise, em tempos de vacas magras ou gordas, de real abastança ou
Quem sabe, de inconscientes resquícios de mera vingança.

Época de carisma, de pura ventura ou apenas agrura, algo da amargura de enigmática doçura,
Em que felicidade acaso é pintura, retratada em dourada moldura de mente imatura . . .

Talvez esperança, isso sim, isso sim, esperança,
Esperança, esperança, na gerada tardança de um alvorecer,
Infindáveis augúrios quase que interditos,
Às almas que singram
modestíssimostugúrios
ansiando, ansiando alcançar
apenas, infindáveis finitos! . . .

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