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Publicado: Terça-feira, 17 de outubro de 2006

Alberto Santos Dumont - Visionário ou Temerário?...

Visionários ou temerários, assim têm sido chamados aqueles que na história vislumbraram alguma verdade relevante e, se lançaram denodadamente à sua conquista, realização ou comprovação, apesar dos desestímulos, oposições, invejas, vaidades, prováveis perigos, riscos ou incógnitas surgidas pela descrença generalizada, ou antipatia dos contemporâneos.

Profundamente convictos e fundamentados do que puderam intuir, arquitetar, crer e experimentar, jamais tiveram mãos a medir e coração a investir, presididos sempre por mente arguta, incrivelmente desperta e lúcida. Na ação buscaram comprovar as razões de sua incontida e íntima verdade. Alguns, como Giordano Bruno, Servet, Morus, Tiradentes e outros, perderam ou entregaram suas vidas para afirmá-las até a fogueira e a forca. Outros arriscando também a vida sofreram o descrédito, o desânimo, a injustiça nas formas mais diversas sem perder entretanto a inteireza e a determinação, como o ponderado e atiladamente prudente Galileu Galilei e o grande sábio destemido ou temerário grego Sócrates, para afirmar que a “verdade nos torna livres”, e portanto potencialmente habilitados a “voar” por parâmetros transcendentes, mesmo que essa verdade seja o produto de uma pobre realidade humana, que para ele era a maior incógnita, pois sabia e o dizia em humildade, que o que sabia não era tudo o queria, que só sabia bem que nada sabia. E tomou sua trágica cicuta, sabendo muito bem serena, cidadã e lealmente como exemplificar obediência à verdade da razão que o vinculava às leis daquela república democrática. Sem qualquer vaidade, despeito ou rancor!...

São as ironias humanas da desumanidade da razão e incongruência histórica dos humanos. Outros ainda, talvez mais felizes e privilegiados, como o insuperável e genial Leonardo D’a Vinci, com o insubstituível e necessário suporte de seus mecenas, trouxeram luzes pioneiras àquela humanidade ainda virgem de grandes descobertas tecnológicas.. Depois de Ícaro, o mito grego que simbolizava a aspiração humana de voar ou planar entre as nuvens como um pássaro, ou do ainda mais antigo mito do arcaico Egito, um pássaro com cabeça humana, “Ba”, símbolo da alma, criaturas que usariam suas asas para alcançar os céus, expressando o humano desejo de ver-se livre da lei de gravidade e alcançar assim as altas esferas, pairando como anjos, foi historicamente talvez o primeiro, a pensar em voar por meio de algum aparelho ou artefato, a imaginar e desenhar suas criativas invenções, como resultado de elucubrações engenhosas e desafios humanos de liberdade.

Talvez e, poderia dizer certamente, Leonardo com sua genialidade, foi um dos espíritos e símbolos inspiradores e motivadores de Alberto Santos Dumont. Todos eles acima, personagens fundamentais e vitais para a história e crescimento do pensamento e comportamento humano, cada um em seu raio de ação, visionários e temerários, seres dotados de visão e valor, considerados a priori visionários extravagantes e temerários imprudentes, mas deixando indelevelmente escritas páginas de história exemplar pioneira, que nos sensibilizam, nos deixaram pistas e nos fazem pensar. Fatos e figuras eternamente vivos, a lançarem chamas, inspiração e lampejos de conhecimento, vigor, alimento, luz e fermento, com seu destemor, temeridade e visão, em prol de progresso, verdade e razão para a humanidade ainda em formação.

Assim nos descreve a Enciclopédia Digital Estadão 2005:

VISIONÁRIO adj. Relativo a visão ou a visões. / Que tem idéias extravagantes ou irrealizáveis. / - S.m. Indivíduo visionário.

TEMERÁRIO adj. Audacioso até a imprudência: homem temerário. / Inspirado pela temeridade: ação temerária. / Sem fundamento: juízo temerário.

Em uma de suas profundas e independentes reflexões, John Gray, atual grande filósofo e pensador inglês, diz em “Cachorros de Palha”: . . . “É uma estranha fantasia supor que a ciência possa tornar racional um mundo irracional, quando o máximo que ela poderia um dia fazer seria dar uma nova aparência à loucura usual” Nesse mundo irracional em que a guerra parece ser a mais legítima e constante vocação humana e, o instrumento mais “adequado” para “impor” a paz, surgem não obstante figuras visionárias e temerárias a oferecer a entrega de suas tentativas, teimosias e experiências a sugerir progresso pragmático, contribuições e avanço, sobre o pessimismo que a frustrada racionalização acima parece definir ante a frustrante realidade humana. Nesse cipoal de dúvidas, profundas inquirições e vendaval de egos, ambições, vaidades propostas e sugestões, acontecem figuras, irrequietas mentes, corajosas ações!

Alberto Santos Dumont !...Um nome de dimensão, profundo e significativo orgulho para os brasileiros e todos quantos com amor e respeito o cultuam como o pai da aviação. Mas cem anos após aquele historio vôo do 14-Bis em Paris no dia 23 de outubro de 1906, feito ante a presença e participação vivencial de um considerável público e de autoridades, técnicos especializados e um comité julgador, constataram o irrecusável fato concreto de que um objeto ou veículo mais pesado que o ar podia afinal voar por seus próprios meios e ser comandado no vôo por seu piloto condutor, muitas têm sido as polêmicas que tentam contrariar ou dificultar a harmonia esperada ao reconhecimento desse acontecimento memorável, da história da aviação, tão bem documentado. Várias eram as experiências mirabolantes nessa área que se faziam na época, compartilhadas por aeronautas contemporâneos como Gabriel Voison, Henry Farman entre outros. Os irmãos americanos Wilbur e Orville Wright, eram entre vários, uns que afirmavam ter voado por primeira vez em 17 de dezembro de 1903. É aí que começam as discrepâncias de vulto. Não importa muito saber quem contribuiu mais e primeiro. Importa sim reconhecer a vitalidade, importância e oportunidade das contribuições de cada um dos envolvidos no mesmo propósito, em espírito de equanimidade e justiça, com o respeito à verdade histórica, suas circunstâncias, o conjunto dos aportes e subsídios que tornaram grande, valioso e insubstituível o pioneirismo compartido, o mesmo propósito de libertação e vôo, o rompimento das amarras cruéis do desconhecimento, postas em evidência pelas descobertas tecnológicas comulativas a sucederem-se em velocidade surpreendente cada vez mais e em maior escala.
Entre as diversas polemicas e controvérsias convém relatar e destacar, para melhor esclarecer, com
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