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Publicado: Segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ainda sobre a família

Ainda sobre a família
As coisas do coração fortalecem a relação familiar

A vida profissional tem me ocupado mais do que eu gostaria. Embora a dedicação e a responsabilidade tenham me ensinado a sentir prazer no ofício diário, sinto falta do tempo ocioso para fazer as coisas do coração. Coisas do coração são aquelas que fazemos voluntariamente: independentemente do dia, da hora, do programa ou do prazo. Elas bastam por si só!
 
Das muitas coisas do coração, a que mais me alegra é o contato afetivo familiar. Acordar sem pressa e arrumar a mesa do café da manhã para saboreá-lo em família é a sensação mais confortante que o meu coração já experimentou: um ritual indispensável para o fortalecimento do laço familiar.
 
Mas isso não é regra. Na maioria das casas as famílias têm deixado de valorizar esse contato. E por mais que a sociedade atual revele outros e novos valores na constituição familiar, parecendo inclusive “caretice” valorizar a relação estável, não há nada mais significativo no desenvolvimento da inteligência emocional do que a função familiar.
 
“Somos marcados pelo olhar profético que nos lançam em pequenos, como a maldição das fadas nos contos infantis”, diz a escritora Lya Luft quando enfatiza a importância do afeto vivenciado na infância. Com essas palavras, a tese que venho construindo ao longo da vida profissional se ratifica: alunos saudáveis, com emoção equilibrada, interesse intelectual e de fácil e boa relação, são filhos amados e desejados na vida familiar.
 
Mas essa família não se constitui por acaso, ou por sorte, como muitos acreditam. Nada é por acaso. O casal, líder responsável por esse sistema, precisa transformar o sonho dourado da família ideal numa rigorosa e constante busca de melhoramento das ações pessoais. E isso requer respeito, equilíbrio, dedicação e, sobretudo, muita tolerância. Afinal, é no exercício diário que o sonho dourado tem que superar a falta de tempo, a falta de dinheiro, o cansaço físico e o excesso de tarefas. Com o nascimento dos filhos, então, o serviço doméstico aumenta e a relação parece não encontrar espaço para a troca e a alegria do afeto.
 
E ainda assim não podemos desistir: os filhos, quando amados, deixam de carregar a culpa por futuras frustrações pessoais e fortalecem o convívio familiar. São eles a oportunidade, talvez a única, de nos (re)conhecermos na essência humana: “a infância é o chão sobre o qual caminhamos o resto de nossos dias”, ainda Lya Luft.

E quem é responsável pela qualidade da infância, senão a família presente na vida da criança?
 
Quando o nosso presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que “a família pode fazer mais pelas pessoas do que o Estado” estava repleto de razão. Sobretudo na esfera emocional. Que, aliás, é a esfera determinante para as demais.
 
Por isso, insisto e atribuo intensa responsabilidade à família. Não há crescimento pessoal sem o amor primeiro: aquele entre pais e filhos. E a família é o coração que abriga esse amor.

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