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Publicado: Segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Ainda os filhos

Chegamos a um momento da história humana em que, felizmente, ainda nascem crianças, o que é uma prova de que Deus continua confiando nos homens. No dia em que já não nascessem crianças seria o fim, a 25ª hora. Mas o realismo dos que não vivem na estratosfera exige que não nos iludamos: casais das classes média e alta de todo o Ocidente cristão, aceleradamente, optaram por ter a média de dois filhos, número para a necessária reposição do par humano. Na realidade, nos países da Europa e até mesmo do distante Japão, nem mesmo essa média de natalidade vem sendo alcançada.

Em artigo anterior acenei não só ao dever que os casais têm de gerar, criar e educar mas, também, ao rápido envelhecimento da população. Se de um lado a vida humana foi prolongada, o que é um bem, de outro escasseiam as crianças e os jovens, diminuindo inexplicavelmente em um grande número de famílias a quantidade de filhos, abrindo-se espaço nos lares para a criação de cães, gatos e outros bichos. Dias atrás alguém me falava sobre o afeto, o carinho e as mordomias que certa senhora casada dedicava a um de seus cães, proporcionando-lhe tosa e banho, roupinhas e visitas regulares ao veterinário. O bichinho ficava onde queria na casa, incluindo a cama do casal...

Com o Concílio Vaticano II, encerrado em 1965, sem dúvida a maior e mais importante assembléia mundial do episcopado católico da bimilenar história da Igreja, na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes – Alegria e Esperança”, está bem claro que os padres conciliares vindos dos cinco continentes aceitaram, praticamente por unanimidade, o princípio de legitimidade do que se convencionou chamar de paternidade e maternidade responsáveis. Todo e qualquer casal tem o dever de ter, nem mais e nem menos, o número de filhos que pode gerar, criar e educar convenientemente. Pode ser um ou podem ser quatro. Quem sabe até mais.

O grave problema da geração e educação dos filhos é de cada casal. Não é da Igreja e muito menos do Estado que, aliás, tem na família a instituição da qual depende a sua própria existência e sobrevivência. É problema de foro íntimo, indevassável. Somente estão dispensados desse gravíssimo dever casais estéreis e infecundos, cujo casamento é válido, tendo direito à intimidade sexual de que jamais resultará um filho. Nesse caso, ética e moralmente falando, eles não têm o dever de recorrer a uma fertilização in vitro ou procriação assistida, o que poderia dar-lhes um filho com as alegrias que isso lhes traria.

Como se trata não de um problema qualquer, mas transcendente, de suma importância porque a deliberada e definitiva exclusão dos filhos invalida o consórcio ou contrato matrimonial, anulando-o, o casal deve ser co-responsável, tendo sérias razões e não um motivo qualquer, tanto para optar por um ou mais filhos no momento oportuno, quanto por gerá-los acolhendo-os com carinho, oferecendo-lhes amor, segurança e bem-estar. Nisso estará a sua felicidade verdadeira, pois os filhos, além de serem um acontecimento histórico na vida de todo e qualquer casal, dão sentido à vida matrimonial, abrindo aos pais novas perspectivas, tornando-os educadores e evangelizadores, perpetuando a espécie humana, oferecendo novos cidadãos ao seu país e novos filhos e filhas a Deus, integrantes da comunidade de fé, culto e amor que deve ser a Igreja.

Essas verdades estão implícitas na “Gaudium et Spes” (1965) e explícitas em outros importantes documentos pontifícios como a “Humanae Vitae” (1968) de Paulo VI e na encíclica “Evangelium Vitae” (1995) de João Paulo II. São importantes posicionamentos de uma Igreja que sempre manteve e prosseguirá mantendo a linha de uma intransigente defesa da “cultura da vida” defendendo, corajosamente, a sacralidade da vida, desde o ventre materno até a fase terminal da existência humana.

Paternidade e maternidade responsáveis nada têm a ver com controle de natalidade, que exclui a vida incentivando a esterilização do homem e da mulher, legalizando o aborto voluntário, equiparando verdadeiros casamentos a uniões homossexuais, distribuindo à farta pílulas, preservativos e outros métodos contraceptivos. Todo o episcopado – são hoje 4.600 os bispos católicos, cerca de 420 deles no Brasil – comungam afetiva e efetivamente com os legítimos Sucessores do Apóstolo Pedro, aos quais Cristo credenciou e ordenou “confirmassem os seus irmãos na fé”.

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