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Publicado: Sábado, 28 de janeiro de 2012

Água de cima

Crédito: Divulgação Água de cima
Quando chove, chove...

A definição clássica de ilha quase todos nós já conhecemos, alguns certamente se lembrarão dos tempos de escola: uma porção de terra cercada de água por todos os lados. No caso de Santos (que é uma ilha também), por exemplo, a definição é seguida à risca. Por todos os lados mesmo. Inclusive de cima.

Algo que às vezes escondem dos demais moradores do estado de São Paulo e demais estados vizinhos é que o estado normal do litoral paulista durante o verão é de muita chuva. É um fato frustrante para o turista ou o visitante sequioso por uns bons dias de sol junto ao mar.

Lembro-me que em 1990, choveu ininterruptamente, variando da garoa bem fina a pancadas mais fortes, durante 90 dias. Isso mesmo, 90 dias! Quando a chuva parou, boa parte da população já se encontrava com problemas existenciais seriamente profundos. Quando apareceu o sol, então, houve um crescimento significativo na venda de carnes para churrasco a fim de celebrar a efeméride.

O paulista/paulistano que se acostumou em pegar aquela praia no litoral paulista, com dias absurdamente ensolarados nos últimos anos, viveu uma exceção à regra. Verão por aqui sempre foi sinônimo de chuva. Com as mudanças climáticas, a exceção começou a ficar mais frequente.

Ser santista no verão é se acostumar com as meias e os sapatos molhados. E andar com aqueles guarda-chuvas que parecem um guarda-sol. Alguns quase que do tamanho de uma barraca.

Um dos motivos que levou o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito a baixar por aqui e botar o projeto dos canais que cortam a cidade em prática era a quantidade de água parada em boa parte da ilha. Santos certamente conhece dengue há muito mais tempo que as demais localidades brasileiras.

Um dos nomes indígenas de Santos é Enguaguaçu, que significa lagamar grande. O bairro do Campo Grande, por exemplo, até o século XiX, era conhecido por ser uma das maiores extensões pantanosas que havia na ilha. E certamente não era água que brotava do chão.

Até mesmo porque o solo de Santos é considerado um dos piores do mundo, perdendo apenas para a Cidade do México. A composição do solo santista é de argila marinha, um terreno impróprio para qualquer edificação acima de nove pavimentos. Certamente é fácil entender o temor do santista diante dos novos empreendimentos imobiliários, alguns perto dos quarenta pavimentos. Assim como é fácil entender porque Santos também é conhecida como a cidade dos prédios tortos (inclinações mais ou menos parecidas com a da Torre de Piza tem aqui aos borbotões).

Portanto, se suas férias pelas bandas de cá forem devidamente regadas pelas intermináveis precipitações, lembre de que, durante o verão, esse é o estado normal daqui. Férias no litoral paulista, nessa época do ano, é certamente contar um pouco com a sorte. E viva o Climatempo!

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