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Publicado: Segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Agradecimentos

O intuito desta coluna é a divulgação da ciência e do espírito crítico, mas como é o único espaço de que disponho na mídia, vou me valer dele para agradecimentos pessoais e públicos, fugindo momentaneamente do objetivo científico.

Na última sexta-feira, 10 de novembro de 2006, teve lugar, no teatro do Regimento Deodoro, o elogio ao patrono da cadeira número 12 da Academia Ituana de Letras (ACADIL). O orador, Altair José Estrada Júnior, novo ocupante da cadeira, teceu competente descrição da vida e da obra desse patrono, o Dr. José Leite Pinheiro (não confundir com Dr. José Leite Pinheiro Júnior, filho do patrono e que dá nome à escola situada no Bairro Brasil). Também teceu emocionado elogio à primeira ocupante dessa cadeira e membro fundador da ACADIL, Thereza Silveira de Mello, minha mãe.

Altair não pôde esconder sua extrema sensibilidade, pois soube escolher, entre os poemas de Thereza por ele lidos na cerimônia, alguns dos que eram os prediletos dela própria, como "No Universo dos meus Versos" e "A Paineira". Ele também não conseguiu esconder seu entusiasmo ao participar de uma celebração em honra de pessoas caras a uma parcela, diminuta talvez, mas seleta da comunidade ituana. Seleta por sua sensibilidade, pelo cultivo das letras, pelo cuidado com a verdade e com os valores morais. Seleta pela cultura vasta e sem alarde, pela persistência da divulgação do belo nas letras numa terra onde ainda prevalece o analfabetismo funcional, seleta por jamais desistir de seu ideal de cultura, mesmo diante de dificuldades financeiras e operacionais. Sim, eu disse operacionais, pois vi nascer a ACADIL e vi muitas vezes a dificuldade até de encontrarem lugar apropriado para se reunir, às vezes até por obra da inveja de quem estava no poder... Mas jamais ouvi dos lábios de uma Lourdes Sioli, de uma Durce Sanches, de uma Maria Lúcia Caselli, de uma Nenita Navarro, de uma Thereza Silveira... qualquer sinal de esmorecimento ou qualquer indício de desistência.

Ao Altair e à ACADIL como um todo só tenho a agradecer pela homenagem à minha mãe. Mas ainda tenho uma dívida de gratidão para com um de seus membros em especial. Por ocasião do falecimento de Thereza, muitas pessoas publicaram nos jornais de Itu suas homenagens e condolências. Mas creio que nenhuma foi capaz de descrevê-la tão bem como o Luís Roberto de Francisco. Creio que eu mesmo não conseguiria ser mais preciso ao descrevê-la. Reproduzo, abaixo, a homenagem de Luís Roberto à Thereza, por ocasião do falecimento desta, em 1999:

" Uma senhora chamada poesia

Começa a anoitecer na antiga cidade, adentra o velho casarão uma senhora, figura distinta em seu passo firme, resoluto, de quem tem a certeza de que o mundo é bem maior do que se imagina e que cada um de nós é apenas uma gota no oceano. Traz na bolsa uns versos para ler aos companheiros da Academia. Thereza traz novas idéias e a magia do sonho, sabe que:

'Não importa a realidade fugidia

Que nos assedia

Pois, na farsa da poesia, fingimos

A felicidade que não possuímos'

Uma a um chegam os outros, uns mais vividos, outros repletos de esperança, cada qual também com seu sonho. Uns vivem ali mesmo, outros sabem que a alma é maior, que não cabe na memória dos computadores. Entre eles está ela, a senhora poesia. Chega ansiosa, quer conversar, saber novidades, falar dos seus retalhos de vida.

o encontro começa, ata, correspondência, avisos, tudo parece uma eternidade porque quer falar, não agüenta; será que ninguém sabe que o sonho não pode esperar ? Não sabem!

'Ser poeta não é fácil,

Pois são tantas vezes incompreendidos

Bem poucos aceitam

O jeito de ser de um poeta'

Quer falar...surge um momento e fala, finalmente:

'Nas profundezas da memória

Estão os restos de mim!'

Poucos compreendem seu canto, sua busca pelas raízes, pelo que fora, memórias do casarão, dos amores da juventude, da família de que tanto se orgulha. Cria então novas imagens para compartilhar, quem sabe consegue lhes tocar o coração. Pensa num canto leve, inocente como a alma, como a própria vida. Ora, amar significa viver. Escreve:

'Se um dia, outro amor

O meu caminho cruzar,

Terei a alma repleta de ternura

E um coração inteirinho para dar'

Finda-se a reunião, todos levantam-se, conversam de coisas do hoje e do amanhã. Thereza ainda lê seu credo:

'Creio no trabalho do homem.

Creio na unificação das raças.

Creio no povo sorrindo,

Voltando a ter ilusões.

EU CREIO!'

Deixa a lição para quem ainda não aprendeu a sonhar. Agora se levanta, se despede, vai indo embora, rasgando o tempo e o espaço. Ainda olha mais uma vez todos os amigos, lembra-os da grande lição, lhes dá o último adeus e sem titubear caminha para a eternidade, finalmente a poesia!"

Obrigado Luis Roberto, obrigado Altair, obrigado ACADIL.

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