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Publicado: Domingo, 23 de junho de 2013

Agora que temos os estádios prá Copa...

Crédito: Google Imagens Agora que temos os estádios prá Copa...

Vamos construir um país ao redor deles!

Li esta frase na Veja edição 2327, reproduzindo o cartaz de um manifestante no Ceará, num completo relato sobre as manifestações que abalaram o Brasil na última semana. O relato inclui o resultado de uma pesquisa com 9088 pessoas que a revista fez pela internet, perguntando qual bandeira a pessoa levou para a rua.

Destacaram seis bandeiras. Venceu a “corrupção” com 53% das opiniões; seguida da “não a PEC 37” (aquela que limita os poderes de investigação do Ministério Público) com 49%; em terceiro veio a “melhora na educação” com 45%; em quarto a “melhora do sistema de saúde” com 38%; em penúltimo a “prisão para os políticos envolvidos em corrupção” com 28%; e por último “contra os gastos com a Copa do Mundo” com 23% dos votantes.

Curioso é que a redução de tarifas dos transportes coletivos, que foi o estopim dos protestos nem aparece nas seis primeiras posições.

Pela primeira vez, tivemos um manifesto em nível nacional convocado pelas redes sociais. Diferentemente das outras, não apareceu um líder, um partido politico ou um sindicato, à quem sempre coube convocar os cidadãos para as reivindicações e protestos. Lembram-se do movimento “Diretas já”, e do “fora Collor”?

Talvez o desprezo aos partidos e a ausência de um líder, tenha sido a causa das disparidades nas reivindicações que, mesmo assim, levaram mais de um milhão às ruas.

Todas as bandeiras são válidas, mas acho muito especial aquela contra os gastos da Copa do Mundo.

Na mesma edição da Veja, aparece um quadro com os valores envolvidos na Copa. Vejam os absurdos.

Primeiro: será a Copa mais cara já realizada no mundo. Tudo é na base do bilhão de reais. Os 23,8 bi previstos para gastar, já saltaram para 25,5. Supera de longe a Copa mais cara já realizada até hoje (Alemanha 2006) onde gastaram 10,7 bi.

Segundo: dos 25,5 bi a serem gastos, apenas 4,2 bi (ou 16,5%) sairão da iniciativa privada, porque os outros 21,3 bi sairão do nosso bolso, em investimentos do governo federal, incluindo financiamentos de bancos públicos, e de governos estaduais e municipais.

Terceiro: desses 21,3 bi que os contribuintes brasileiros pagarão, 8,5 bi serão utilizados em transportes urbanos, 6,4 bi em estádios, 3,2 bi em aeroportos, 1,9 bi em segurança, 0,7 bi em portos, 0,4 bi em telecomunicações e 0,2 bi em turismo (quase que se esqueceram do turismo).

Então, agora que temos os estádios para a Copa, vamos construir um país em volta deles?

As manifestações de rua são um excelente começo.


EDSON BONI é professor universitário e mestrando em Educação pela UNISO.

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