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Publicado: Sexta-feira, 5 de junho de 2009

Acumulado

Escrever, por si só, não funciona sempre.
É preciso ter um motivo.
E eis um motivo: o fim!
(Como sempre, andar sozinho de cabeça baixa faz motivos surgirem, mas não necessariamente o fato de estar sozinho faz pensar).
(Neste caso, sim).

Estava mesmo lendo a penúltima página da revista, antes do médico chamar.
Era a indicação de um livro, rosa, de 654 páginas, que pensei ser ótimo para o meu processo de “esvaziar a mente”.

Antes de ter a coragem de lê-lo, e maior ainda, comprá-lo, haviam indicado chás, yoga, acupuntura e banho de sal grosso. Até mesmo esvaziar copos foi indicado, com o devido respaldo da moderação (enfim).

Talvez o ritual tivesse funcionado se fosse feito todo de uma vez, se possível, no mesmo instante. Talvez, inclusive no que se refere aos copos.

Mas o livro, o poder de um livro pesado e rosa em suas mãos é realmente uma arma poderosa, de uma delicadeza sem fim. Ocupei a mente: Talvez as pessoas tenham receio, umas das outras, e delas mesmas.
 
(Foi pensamento, não tinha relação direta com o livro em si).
(E como um pensamento leva ao outro, prossegui o oficio daquele instante...).  
 
Convivência é complicado, seguir ordens embaçadas é complicado. Livrar-se disso foi complicado.

Parece estranho quando não tem ninguém perto, e acompanhamo-nos de nós. Parece estranho quando tem muita gente ao nosso redor, e continuamos com nossas teorias que armamos, furadas como todas as demais, mas que fazem um efeito a curto prazo fantástico, ou discursos de uma primazia estupenda, capaz de tornar-nos acompanhados de pessoas imaginárias, para aplaudir a nossa engenhoca de ideia daquela hora.
Elucubrações são direito de quem está sozinho.

O restar-se sozinho pode indicar tanto para analisar:
O quanto os dias pesam, e o quanto fica ali todo aquele peso em nosso coração, interditando a passagem das boas venturas.
E fica acumulado. Acumulado cansaço.

Se pudesse não arriscaria.
Se pudesse nada mais diria.

Nunca fui de grandes manifestos.
E quando estamos sozinhos podemos pensar tudo, e penso que a política é um caos, a educação vive um descaso, muitos se vestem de hipocrisia, nosso chefe é um estúpido e os animais não deveriam ser sacrificados para saciar a pseudo-fome de ninguém, no entanto, estou cá parada, eu e meus botões, confabulando discussões dignas de milhões de aplausos - tanto do meu público dos prós e dos contra cada argumento apresentado.
A mente é mesmo um cinema engraçado.
Em exibição: um romance!
E virou um livro. Rosa!
E sofre, como sofre! A mente sofre por antecipação. E a novela nunca acaba! Quando uma aflição termina trata logo de arranjar outra. Quando uma trama vira a página, um outro caso assume a atenção dos corações indefesos.
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