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Publicado: Sábado, 14 de janeiro de 2012

Abriu franquia

Crédito: Divulgação Abriu franquia
Diário do Litoral, 30/12/2011: crime e vergonha

 

Pois é, se você achava que milícia era apenas uma tecnologia carioca, que tinha tudo a ver com a realidade do Rio de Janeiro apenas, acho bom rever seus conceitos.

Na ilha de Santo Amaro, onde fica a cidade de Guarujá, milícias criadas a partir dos condomínios fechados intimidam famílias de caiçaras que estão na região há mais de 150, 200 anos.

A briga comprada pelo jornal Diário do Litoral tem lá seu fundamento: os condomínios fechados do Guarujá desestimulam a presença de visitantes e turistas que queiram visitar as praias dentro dos limites do condomínio.

Um contrasenso: um dos lugares mais democráticos de nosso país, a praia, fica sob a tutela e o controle desses condomínios que, por sua vez, encontram chifre em cabeça de cavalo para desestimular a presença de qualquer um que queira passar horas em belas praias que pertencem à União e não deveriam ser encaradas como particulares.

Por se tratarem de áreas de preservação ambiental, os ilustres moradores desses condomínios penso que sequer sabem o que as administradoras fazem para manter a massa da população do muro para fora.

Ora não há vaga nos estacionamentos, ora não há como transportar pessoas do estacionamento para a praia e mais um monte de outras desculpas bem esfarrapadas talvez com um único objetivo em mente: oferecer aos condôminos uma praia particular.

Isso não seria tão aterrorizante se não fosse por um detalhe: qualquer coisa que você queira fazer numa área próxima do litoral, uma reforma, uma construção, um empreendimento, precisa da anuência do Ministério da Marinha.

Ou seja, fica difícil de acreditar que a Marinha desconheça a presença dessas milícias ou de qualquer outra atividade cujo objetivo é elitizar uma área que pertence ao povo brasileiro.

Os moradores desses condomínios? O que há de mais fino na sociedade paulista-paulistana-brasileira: figurões com muito dinheiro, deputados, 1º e 2º escalões governamentais e mais uma quantidade quase infinita de gente que qualquer um se vê forçado a chamar de Vossa Excelência.

Ou seja, os novos loteamentos na cidade do Guarujá já vem manchados com abordagens pouco amigáveis. O famoso quem tem dinheiro, manda. E o Ministério da Marinha meio que finge que não é com ele. Começa o jogo de empurra: provavelmente alegaria a tarefa de inibir tal procedimento para a prefeitura local e o MP.

Um acinte: a praia é uma propriedade da União. Pertence a todos nós. Ou deveria pertencer, pelo andar da carruagem. Casos como o do Guarujá se espalham às pencas pelo litoral brasileiro, trazendo para si a ignomínia da utilização privada de um patrimônio público. A praia é um espaço para todas as pessoas, ainda que dentro dos limites do bom senso, da proteção ao meio-ambiente e do convívio razoavelmente saudável.
 
A praia é de todos, ainda que haja gente que pense justamente o contrário.
 
Abaixo o link com a entrevista do jornalista Carlos Ratton, do Diário do Litoral, para a Rede Brasil Atual.
 
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