Abóbora no vapor
Ordália era o nome dela – a generosa amiga que me deu a receita.
- Simples de fazer - dizia de facão na mão - pronta para atacar a abóbora de casca resistente. Pique em pedaços pequenos – mas não muito, viu? Acrescente sal, azeite, temperos variados e escolha a panela certa - recomendava. Sim. O tamanho da panela contava no resultado.
- Ah! Não esqueça o raminho de salsa por cima, só pra aromatizar.
A iguaria cozida no vapor exalava um delicado e irresistível aroma, que dava água na boca.
Ordália perdeu-se nas mudanças da vida. A receita adormeceu no caderno, até a chegada de um novo tempo.
Na pequena casa envolta em jardim, o cheiro das Rosas se espalhava por fora e por dentro, misturado aos odores da cozinha. No fogão, um feijão se tornava tutu - a mineira - com o molhinho acebolado jogado por cima, enquanto a couve era assustada no óleo quente, bem depressa pra ficar verdinha. Tudo feito a quatro mãos.
O velho caderno desperto abriu suas páginas, trazendo de volta a lembrança da abóbora. Duas mãos descascavam, picavam e lavavam, e um par de outras espalhava diminutas porções de temperos, saídos de misteriosos potinhos. Grossas rodelas de cebola e tomate ocupavam lugar na panela, enfeitadas com um raminho de salsa.
Alimento para o corpo e para a alma.
Não apenas Proust teve suas Madeleines, no volume intitulado “O Tempo Reencontrado”.
Abóboras, Rosas e jardins também são poderosas ferramentas para se ir “Em Busca do Tempo Perdido”.
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