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Publicado: Segunda-feira, 5 de novembro de 2012

ABAV: tempo de mudanças

Crédito: Tasso Marcelo-Estadão Conteúdo ABAV: tempo de mudanças

O balanço da recém-encerrada 40ª feira anual da ABAV, associação que reúne os agentes de viagens, traz uma boa e uma má notícia. A boa nova é que o setor vive um momento único. Durante os três dias do encontro, 26 mil participantes interagiram com cinco mil expositores que ocuparam 448 estandes distribuídos em 30 mil metros quadrados do Riocentro. Até um marciano distraído percebe a energia no ar. É que a expansão da demanda doméstica, alimentada por uma economia favorável tem provocado um crescente interesse de empresários pelo vibrante mercado brasileiro.

Mas se o setor indica pujança, ao mesmo tempo enfrenta um desafio fatal. Mais que atrair novos talentos e capacitar tecnicamente os operadores do turismo para atuar no novo cenário competitivo, é preciso mudar a mentalidade de algumas lideranças dessa indústria. Com a internet, agências online e redes sociais, o eixo do poder deslocou-se das autoridades para o consumidor, que agora é quem decide. Mas nem sempre este movimento parece ser percebido.

Por isto, é preciso mudar. A começar pelo fim de liturgias extemporâneas em cerimônias chatíssimas, discursos vazios feitos para autoridades infindáveis e quase sempre sub-representadas nas cerimônias, deixando para trás os salamaleques e bajulações a ministros que se sucedem por acomodações políticas e que mal escondem o despreparo e inapetência para o cargo. Há uma estranha inversão de valores, talvez fruto de herança cultural que já perdeu a razão de ser. Em poucas palavras, como em qualquer economia desenvolvida, é o governo que costuma depender da indústria do turismo, e não o contrário.

Para piorar, líderes equivocados perdem a oportunidade de fazer bonito, e usam a posição privilegiada para inchar seus egos, provocando engarrafamento na estrada do progresso. Como elefante de circo que desde pequeno foi condicionado a dar passos curtos por causa de correntes atadas às patas, o setor ainda não se conscientizou que cresceu e de sua imensa força, capaz de romper grilhões que o impedem saltar de vez na direção do crescimento.

Felizmente há bons exemplos de gente sintonizada com o mercado. Um deles é William Périco, atual dirigente da ABAV São Paulo, e que completa agora também a gestão vitoriosa à frente da AVIESP, associação das agências do interior de São Paulo. Entre outras ações corretas, ele abriu mão de territorialidades, priorizando a realidade e os interesses dos associados, ao transferir a sede da AVIESP do interior para o mesmo endereço em São Paulo onde as demais associações de classe estão instaladas. Além de demonstrar união, todos ganharam com a otimização de recursos, maior número de participantes para os projetos de capacitação e visibilidade para o setor. "O turismo vai crescer mais que a média do país, e precisamos nos preparar para isto", ele aposta.

Périco demonstra que é preciso pensar grande, de forma arrojada e despojada, em benefício da indústria. Quem sabe as duas decisões anunciadas durante a ABAV, a sua saída do Rio depois de dez anos, e o acesso do consumidor às próximas feiras anuais, sejam o prenúncio de novos tempos?

*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 31 de outubro de 2012, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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