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Publicado: Domingo, 8 de junho de 2008

A última coluna social

Crédito: Google Imagens A última coluna social

Sábado, 31 de Maio. As portas do magnífico salão nobre do Nhambiqüira Social Club abriram-se para acolher a nata da society nhambiqüirense, ali reunida para um momento sublime: a apresentação das debutantes 2008.

 

Tal qual família de elegantes garças, trajando branco as meninas em flor se empoleiravam no palco, a ostentar uma inocência que em nada condizia com a fama coletiva de experientes biscates, apesar da pouca idade. Incluindo a gorda e feiosinha Tércia, filha do meio do Jão da Noca.

 

Das sócias do clube nesta faixa etária, só não quis debutar a Fátima Djanira Fontes. Esta sim, inocentinha de verdade. Confessou em reserva a uma vizinha que o namorado, após muita insistência, conseguiu que ela pousasse a mão entre suas pernas. Fátima relatou então sentir uma certa calosidade na região acariciada, a que ela atribuiu tratar-se de um osso, ou massa tumoral de consistência firme e em avançado estágio de crescimento. Assustada com o achado, ainda que a apalpadela se desse por cima da calça, recomendou ao namorado que procurasse auxílio médico, para investigar a anomalia na região do pipi. Vejam vocês...

 

Mas, voltando ao nosso baile. Após a entrada triunfal com os papaizinhos, as meninotas foram agraciadas pela patronesse Laurinda Chaves com o edificante livrinho “Virgem, por que não?”. Marido da patronesse, o coronel da reserva Igor Strovsky Chaves também achou por bem presentear as debutantes com modernos Ipods, pré-carregados com arquivos MP3 do Hino à Bandeira e de uma seleção de modinhas do grande Antonio Carlos Gomes. Em elegantes trajes, o virtuoso casal contrastava com as fotos que outro dia encontrei deles num site de swing, nus em pêlo e empunhando chicotinhos.

  

Às sedas, tafetás, tules e cetins da ocasião se somavam elementos ainda mais diáfanos, para não dizer invisíveis, porém de outra natureza e de efeito bem menos sutil entre os presentes. Como os gases da Sra. Odila Trojan, que mesmo em ocasiões solenes dão o ar da sua graça de forma impositiva e personalíssima. O odor nauseante virou objeto de discussão nas mesas ao redor da flatulenta matrona, com os convivas tentando adivinhar que estranha composição de carboidratos, gorduras e proteínas teria formado tão explosiva bomba de metano.

 

Uma explicação plausível seria a péssima qualidade dos salgadinhos ali servidos. À falta de um buffet na cidade, os mesmos foram preparados no trailler de hot-dogs “Baitakão”, e se resumiam a uns engordurados croquetes de batata e salsicha, sanduichinhos ressecados de patê de presuntada, fios de ovos gorados e uma sórdida torta de pupunha e ervilha em lata.

 

Abrandando a pútrida química emanada da Sra. Odila, vez por outra se sentiam os perfumes almiscarados das meninas, suas mamães, titias e amigas, misturados aos vapores do uísque 12 anos que generosamente circulava nas rodinhas dos marmanjos.

 

Mas onde há álcool, há imprudência e desastre. E desastre houve, ainda que não causado pelo uísque dos homens, mas sim pelo inocente ponche de sidra vagabunda e peras servido às mulheres. Sem que se atinasse o porquê, e ali mesmo ao redor da baciada de espumante, a cunhada de dona Silvaninha da quitanda agarrou-se às unhadas e puxões de cabelo à professora Anabel, tratando-a, em altos brados, por “dadeira cadeiruda” e relembrando o que há décadas é voz corrente em toda esquina – o seu intermunicipal furor uterino, que não encontrando vazão suficiente em Nhambiqüira, vem sendo aplacado com garanhões das redondezas.

 

Com as doze badaladas vieram as danças das debutantes com seus pais e em seguida com o famoso Flávio Júnior, um quase clone do quase homônimo ídolo e que há anos quase faz sucesso com seu violão de doze cordas no Muquifo da Filó, inferninho quase centenário estabelecido no vizinho município de Seixas.

 

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