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Publicado: Sexta-feira, 26 de junho de 2009

A tábua e o purgatório

Assistindo pela Rede Vida, faz alguns anos, o programa do estupendo Daniel Godri, me encantei com a história que contou para demonstrar o prejuízo que as más ações causam: quando era menino, seu pai lhe deu um punhado de pregos (e não eram novos), para que pregasse em uma tábua, um de cada vez, todas as vezes que praticasse alguma má ação (brigas de todos os tipos, desavenças etc.).
 
Passaram-se meses, talvez um ou dois anos para a tábua ficar repleta de pregos. Então, o pai lhe pediu que, ao contrário, quando praticasse uma boa ação, retirasse os pregos, um de cada vez. E assim fez, mais ou menos levando o mesmo tempo.
 
Quando retirou todos os pregos o pai lhe pediu que exibisse a tábua. Notou então, que a tábua estava cheio de furos, motivados pela retirada dos pregos. Daí o pai concluindo a lição, afirmou que o mal praticado, embora possa ter sido recuperado por boas ações, deixou marcas profundas, difíceis de desaparecerem.
 
Achei excelente a história, como ilustração para se entender a existência do purgatório. Na formação católica, desde criança ouvimos falar do purgatório, mas não compreendíamos aquela informação estandartizada: no purgatório se apagam as penas devidas aos nossos pecados.
 
Aí está um exemplo claríssimo do que acontece quando se peca. Há o dano do próprio pecado, que representa a cravação do prego e se há o arrependimento posterior desse comportamento, o prego é retirado, mas o sinal onde ele foi fixado dificilmente desaparecerá.
 
Talvez no purgatório. Na violência, características dos tempos em que estamos vivendo, quantas mutilações ocorrem em consequência de agressões e maldades e quantos arrependimentos podem acontecer! O arrependimento de um bandido que feriu um terceiro, é suficiente para que se considere salvo de toda punição? No campo do direito o purgatório pode equivaler às ações de reparação do dano, hoje comum nos pretórios e tribunais.
 
Detalhe curioso, entretanto, é que os nossos irmãos evangélicos não acreditam em purgatório porque a Bíblia não fala dele expressamente, mas apenas do céu e do inferno. E muitos católicos, recebendo também essa influência, se acreditam, deixam de meditar a respeito, preferindo mesmo considerar que todos serão salvos, inobstante na Terra não se tenha conhecimento que o bem, exclusivamente o bem, impere por todos os cantos e recantos.
 
Todavia, o católico que segue o magistério da Igreja, una santa, católica apostólica, não deve duvidar da existência do purgatório, porque o ensinamento tradicional nunca omitiu essa informação, sendo suficientes como reforços, acredito, as duas passagens evangélicas a seguir citadas: “não sairás daí enquanto não pagares o último ceitil.” (Mt. cap. V, Lc cap. VI). “Mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século, nem no século futuro, e será réu de um crime eterno.” (Mt. XII, 24/37, Mc. III, 22/30).
 
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