A política do pão e circo na educação e na vida

Surgiu na Roma Antiga com os “jogos” entre gladiadores e distribuição de pão aos desempregados e, acredite ou não, é a política predominante na maioria das situações do nosso dia-a-dia. Esta é a maneira mais fácil de manter o poder, distraindo-se as massas, mantendo-as razoavelmente entretidas e alimentadas - sem pensamento crítico, independência, questionamento ou revolta.
É comum conversar com pessoas de qualquer idade – principalmente das classes ditas desfavorecidas – e notarmos que o mais longe que vão com seus sonhos é o de colocarem comida na mesa e reservarem alguns trocados para uma diversão ocasional. Entretanto, no resto do tempo, satisfazem-se com a diversão proporcionada pela mídia, joguinhos de celulares bastante acessíveis, churrasquinho despretensioso etc. É a política do pão e circo! Necessidades básicas (pobremente) satisfeitas, para quê pensar a respeito?
Quantas vezes presenciamos pais distraindo as crianças, satisfazendo suas vontades, para encerrarem uma discussão ou não darem maiores explicações sobre o que quer que seja? Educadores agem assim, também. “Vai reclamar de quê? Tem boa comida e diversão...”
Assim, nas próprias escolas não se educa para a independência – de pensamentos e atitudes. Somos uma civilização de dependentes – e passivos. Pior: egoístas! Sim, porque desde que nosso pão e diversão estejam garantidos, não damos a mínima para o outro.
O pensamento crítico e a lógica científica se desenvolvem desde os primeiros anos – na escola e na família. É preciso que se respeite a capacidade do ser humano. No Brasil ainda usamos muito a capa de “super-protetores” – o que, na verdade, é a reprodução da sociedade brasileira desde sempre: manter o controle sobre criaturas não pensantes, dependentes, amedrontadas e egoístas!
Tudo à nossa volta é construído e organizado de modo a fazer com que todos se comportem de maneira bastante semelhante e prevista. Não se tem educado o povo a ser independente e, portanto, caso haja liberdade, não saberá usar. Liberdade precisa ser trabalhada e exercitada. Não podemos confundir com libertinagem e irresponsabilidade.
É preciso que educadores e pais se conscientizem de que a super proteção nada mais é do que a manutenção do controle. Entretanto, segundo Yves de La Taille, ninguém se torna autônomo (independente de ações e pensamentos) sem ter sido antes heterônomo (dependente de regras e ensinamentos). Em outras palavras: a criança não nasce sabendo. Alguém precisa dizer-lhe como se comportar, mas sempre sendo direcionada a raciocinar sobre fatos e atitudes. Aí está o grande problema: o que presenciamos são pais e/ou professores que ou super protegem ou deliberadamente “largam”. Temos então crianças, adolescentes, jovens e adultos que - ou são dependentes, passivos, inertes, ou se acham os donos do mundo, agindo como se todos existissem para seu bel prazer. Fazem o que querem, a hora que querem e permanecem impunes.
É neste ponto que devemos ser muito cuidadosos, pois não podemos, de forma alguma, permitir que nossas pequenas crianças se tornem “imperadores” da casa – mandando e desmandando, não respeitando família e escola, etc. Lembrem-se: até se atingir a autonomia, é necessário passar pela heteronomia. Mal criação e falta de respeito não é liberdade de expressão!
A educação para a independência e exercício da liberdade se torna cada vez mais urgente! Não podemos mais continuar reproduzindo seres que não percebem o quanto são “distraídos” pela política do pão e circo. Exagero? Vamos pensar em algumas situações:
- O adolescente que se satisfaz com jogos de vídeo game dia e noite, sai para a balada, bebe, se diverte, tem dinheiro no bolso > ele tem tempo para questionar escola/pais? Tem interesse? Não! Suas necessidades imediatas estão satisfeitas. Aceita o que vier da escola, finge que aprende, mas na verdade não precisa ter o menor interesse, já que a vida que lhe satisfaz está fora dos muros escolares. Não aprende a participar da comunidade à qual pertence, seja família, escola ou cidade, país.
- Quantas esposas infelizes são mantidas por maridos que lhe garantem “pão e circo” na forma de cabeleireiras e Shopping Centers? Elas não questionam, estão “felizes” ... e o poder está garantido!
- Bem básico: a criança faz birra e os pais oferecem sorvete, distraem-na com um joguinho, um brinquedo e “não se fala mais nisso”. Pronto. É o início. Daí prá frente, desde que ela (a criança) se sinta satisfeita em seus prazeres, não se importa, não questiona, não participa!
- Séc. XXI e nosso governo ainda compra votos por meio de cestas básicas e patrocínio de shows (pão e circo). Mesmo para as classes ditas mais esclarecidas, será que não é a mesma manipulação, mas com cara diferente?
Já é tempo de parar e repensar a educação que queremos para as futuras gerações! Chega de nos satisfazermos apenas com pão e circo!
Já é tempo de clamarmos por nossa verdadeira liberdade de expressão e ação! Já é tempo de termos jovens das escolas públicas da periferia sonhando com uma vida melhor, que vá além da cesta básica e bolsa família!