Colunistas

Publicado: Sábado, 18 de abril de 2015

À noite, vampiro

À noite, vampiro
Escultura de Gil Bruvel

Ao toque frágil e macio de suas mãos, ele acordou. Esfregou o rosto descansado e sorriu. Abraçaram-se por longos minutos, depois cada um virou para seu lado da cama, sentou-se e puxou o calçado, como numa sinfonia. Ele tirou a dentadura da gaveta no criado-mudo e ela pegou os óculos sobre a penteadeira; depois saíram do quarto. Apertaram-se mais uma vez no hall e entraram juntos no banheiro para escovarem os dentes e lavarem seus olhos colados de remela. Ele saiu primeiro e foi até a cozinha, abriu o saco de pães amanhecidos e começou a preparar o café da manhã. Ela voltou para a cama, ligou a televisão e ficou esperando-o. Alguns minutos depois ele chegou com a bandeja, armou e colocou sobre ela. Foi até a janela e abriu a cortina, deixando os raios de sol desenhar a silhueta de sua esposa na parede. E assim, enquanto o calendário ia perdendo suas folhinhas, ficou um esperando o outro morrer, na esperança de restar ainda algum tempo para aproveitar os deleites que lhes foram tolhidos.

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