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Publicado: Quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Mensagem da Serra do Japi e a Terra prometida

Subir a serra do Japi, numa tarde de verão, cálida, sem chuvas ou após terem caído dias antes, pela trilha empedrada sob o túnel quase constante de vegetação luxuriante, formado por densas copas de frondosas essências raras, simples arbustos viçosos meramente jovens, adultos ou floridos, trepadeiras vigorosas, entrelaçadas de cipós, urzes, ervas medicinais; caminhando passo a passo serra acima ou marchando ao som suave de córregos e águas cantantes puríssimas a deslizar sorrateiramente das escarpas cobertas de mantos verdes de musgo espesso, ou em corredeiras saltitantes; apurando o ouvido aos cantos mais diversos e curiosos de imensidade de pássaros ainda mais curiosos, escondidos na extensa mata que exala húmus e aromas; respirando o ar mais leve e filtrado do universo, é, sem dúvida, o contato mais próximo, concreto e real que um ser humano sensível possa ter com o fenômeno espiritual  da pureza cândida, perfeito equilíbrio e transcendentalidade da vida! É a noção mais exata do equilíbrio entre todos os elementos essenciais para que se cumpra o desígnio natural do bem. Ali não há lugar para o cinismo nem para o egocentrismo. A natureza é como se mostra: equilibrada e interdependente. Ao compreendê-la a alma se extravasa espontânea, sem máscara, a revelar-se genuinamente autêntica como a própria natureza, exuberantemente generosa, atuante, existencial. Ali não atuam nem se impõem outras regras que as do natural existir, a existencialidade do respeito mútuo à verdade fundamental circundante que é sã, sem a qual tudo se desmorona: a verdade da equanimidade e equilíbrio interdependentemente harmônico dos seres e múltiplas manifestações, na autenticidade das expressões vivenciais que sustentam o Todo. Na  humilde obediência vocacionada e dócil da razão, sensitividade, sensibilidade e correspondência de tudo ao Todo.
 
Continuando a subir essas encostas sugestivas de paraíso, alcançamos depois de algum tempo o topo, onde estão instaladas as torres, abrigos, antenas e apetrechos de transmissão de rádio e TV, esse mal tornado tão necessário, como o pão nosso de cada dia e, de certa forma responsável pela falta de educação ecológica (e tantas outras  educações) dos nossos dias... (Será mesmo necessário?). Essa parafernália toda, responsável ali também de destruição e deformação da natureza exterior, como o faz com  a interior e seus valores éticos, despersonalizando-a, apalhaçando-a, ridicularizando-a, desvalorizando-a, deshumanizando-a, relegando-a a segundo plano e, todavia, não obstante essas ilações maléficas, conseguimos abstrair-nos o suficiente para debruçar-nos sobre o fundamental: o espetáculo mais impressionante, a grandiosidade da Obra do Criador! Não é possível ficar impassível nem deixar-se deprimir pela frustração das edificações anti-estéticas e anti-ecológicas ali construídas. O importante contudo, é o que desse patamar se divisa ante olhos extasiados nos 360 graus circundantes: o próprio cântico dos cânticos! Terra virgem privilegiada! Riqueza incomensurável! São cadeias e cadeias, sobrepostas em profusão sobre outras cadeias de montanhas verdejantes, paisagens perfeitas de beleza indizível, insuperável, resplandecentes sob o sol radiante, perfeito, de uma tarde igualmente perfeita. São morros corcoveantes, picos, vales deslumbrantes, ravinas, ribanceiras atapetadas, em 3a 4a , 5ª, e 8a, dimensão. São planos sobre planos entrepostos de silhuetas, linhas, verdes claros e escuros, dos mais diversos, sutis e profundos matizes. São brisas leves, arejadas de perfumes suaves reparadores. É a natureza vibrando plena  de integridade, ainda quase intacta, cortada lá ao fundo por um fio, outrora de prata, hoje já um tanto amarronzado e moribundo pelos detritos poluidores da capital de São Paulo, o lendário e histórico Tietê, por onde barbudos e destemidos desbravadores e bandeirantes chegaram até aqui e mais além. Sua realidade hodierna, nós a conhecemos, com o coração oprimido. Que pecado, cometido em busca de progresso! Qual progresso? O rio poluído irreparavelmente? O rio estéril onde a vida é inexistente? E, no entanto, dali onde nos encontramos, o espetáculo inspirador do conjunto, fala mais alto desse paraíso perdido tão perto de nós, tão fácil de reencontrar, esses horizontes estonteantes de beleza sem par, incomparáveis de paz e vocação benéfica a bendizer a promessa de  perenidade, a bondade do amor inconfundível, inarredável, inenarrável, inelutável, comprometido, insubstituível! Toda essa beleza intacta a fazer-nos olhar aquele fio de prata suja com a indulgência da bondade, da fé e da esperança de que o ser humano muito em breve se conscientizará definitivamente. Todo o mal que fizer à natureza, lhe trará um troco deplorável, e não terá remédio possível. Será uma marcha sem volta, um final escatológico. Não obstante, esta é a chance: Circundado pela segurança espiritual do que ainda está à disposição para ser visto e entendido, o ser humano se confronta com o grande desafio! E certamente escolherá o essencial! O Tietê se recuperará, assim como todos os rios do mundo, as florestas se revestirão, o ar se purificará, a sensatez prevalecerá. Um hino de louvor à perenidade do bem se implantará no coração dos homens, das mulheres e das crianças de todo o universo habitável e será sua prioridade irrecusável! Eis a mensagem da serra do Japi!
 
Venham, venham todos à serra do Japi e ao seu topo escalavrado, vislumbrar toda a terra, ainda revestida de dignidade e beleza deslumbrante! Venham inspirar-se e meditar no seu significado enquanto é tempo! Compreendamos como tudo é interdependente e fundamental na natureza! Preservemos o que é vital, preservemos a vida, a sanidade da vida. Está  aqui, à mão, a uns 70 km apenas da cidade de São Paulo:
uma oportunidade, uma experiência única, indizível, que faz tanto bem ao espírito quanto à mente e nos permite reverenciar com humildade sentida, autêntica, a incomensurabilidade maravilhosa dos desígnios insondáveis de Deus.
 
Essa é a verdade iniludível: precisamos da Terra intacta e digna para sobrevivermos dignamente! Venham ao Japi! Venham extasiar-se! Venham meditar! Venham compro
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