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Publicado: Terça-feira, 20 de novembro de 2012

A melhor escola não existe

A melhor escola não existe
É assim que faz a melhor escola?

Às vezes sou procurada por pais, geralmente de crianças pequenas, pedindo ajuda na escolha da escola dos filhos.  Nessa hora, sem muita empolgação, pergunto se estão preparados para enfrentar tantas outras dúvidas das que já possuem. Afinal, no processo de tomada de consciência o que, de fato, nos ajuda mesmo são as perguntas e as reflexões que conseguimos desenvolver.  As perguntas movem o mundo, combatem as certezas fáceis e nos tiram da zona de conforto. 

Não há resposta certa. Assim, como não há escola certa. Aliás, depois de tantos anos pisando o chão de escolas, posso dizer com segurança que elas são, na verdade, muito parecidas, sobretudo na estrutura e funcionamento do ensino e aprendizagem.   Por mais que tentem, nada de muito novo tem acontecido no interior das salas de aulas. Mais ainda das escolas particulares, cada vez mais escravas da dura disputa pela matrícula de mais um aluno.

Por isso, tenho exercitado nessas conversas a compreensão do sentido da escola.  Ainda que tenhamos pouca opção, vale à pena investigar o que se espera de uma escola. E para isso, é bom saber, também, quais valores são importantes na educação dos filhos. 

Você, pai ou mãe, sabe responder quais as prioridades educacionais para formação do seu filho?

Sem ignorar o movimento constante das nossas expectativas, permitindo que os nossos quereres se modifiquem - e é bom que assim seja, pois não estamos prontos - precisamos aprender a perceber a essência educacional: por trás de cada escola, existe uma escolha de valores e ética. 

A notícia ruim é que a percepção da essência não acontece na primeira visita ou entrevista com os gestores da escola pretendida.  Em muitas situações, o discurso politicamente correto corresponde ao que buscamos, mas as ações, atitudes e práticas, conhecidas no decorrer do ano letivo, nem sempre.  Aliás, esse é o grande conflito das nossas escolas: sabem “o quê”, mas não sabem “o como”.

As escolas atuais vivem um terrível paradoxo, como bem explica Howard Gardner, professor e psicólogo de Havard: “(...) temos orgulho de nos focarmos nas crianças, mas mesmo assim não prestamos atenção suficiente àquilo que elas realmente expressam. Reivindicamos aprendizado cooperativo entre as crianças, mas raramente sustentamos qualquer tipo de cooperação entre educadores e gestores. Invocamos trabalhos artísticos, mas quase nunca criamos ambientes que possam realmente abraçá-los e inspirá-los. Apelamos ao envolvimento do pais, mas abominamos repartir com  eles  a propriedade, a responsabilidade e os créditos. Reconhecemos a necessidade da comunidade, mas com frequência nos cristalizamos rapidamente em interesse de grupos. Elogiamos o método das descobertas, mas não temos confiança em deixar as crianças seguirem os próprios instintos.”

O que eu quero dizer com tudo isso? Simples. Não confie plenamente no discurso e nem, tão pouco, se iluda com fama, modismo, resultado e ranking das melhores escolas: nem sempre elas serão boas para o seu filho.  

Não é rara a necessidade de mudança no meio do processo escolar.  E para isso, os pais precisam estar alertas: o que a escola diz é o que de fato pratica com o seu aluno? Recentemente, vivi em casa, tal experiência; e mais uma vez, como sempre acontece na complexa relação materna, pude desaprender para aprender de novo. 

Enquanto insistia na permanência da minha filha na “reconhecida melhor escola da cidade” não percebia sua profunda tristeza.  A mensagem impulsora da decisão e que me fez rever a postura de “mãe sabe tudo” foi o seu comentário, abaixo da imagem que ilustra esta crônica, publicado no facebook, dizendo que a tesoura doía em sua alma. Ao permitir a troca de escola, pude senti-la feliz, de bem com a vida e consequentemente disposta a aprender e a crescer intelectualmente.

Assim, o que tenho a dizer nesse duro dilema da escolha da escola dos filhos é que: primeiro, nenhuma escolha e escola são para sempre. Podemos e devemos mudar sempre que a necessidade bater à porta. E segundo, que aprender a ler os sinais manifestados pelos filhos, - quase sempre muito sutis, é verdade! – é um bom jeito de perceber a essência educacional praticada nas escolas.

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