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Publicado: Terça-feira, 14 de março de 2006

À Laia de Comentário e Informação

Pela editora Ottoni, em nossa cidade, um novo livro brota da pena e mente privilegiadas de Daléa Putz, com o mesmo vigor, magnetismo e aguda intelectualidade, que a revelou e distinguiu como escritora, em “Períodos Partidos e Outros”. Novamente fiel em autenticidade, estilo e gramática adornando a sua obra.

Agora em “Um Astro Passou”, confirma-nos a sua aptidão, sensibilidade e vocação, desta vez afirmando seu talento para acurada reflexão e descrição biográfica de sua juventude, extensas ilações de uma já longa e profícua vida, sentimentos do seu primeiro e idolatrado amor com o jovem Fred, o dotado, versátil, talentoso e excepcional ser humano que tanto a cativou e a fez sonhar e decepcionar aos 14 anos, que contudo afinal, depois de tantas peripécias e tantos anos de permeio, nada menos de 43 anos de devotado e fiel sentimento, veio a ser o seu 2º marido. Interessante trajetória biográfica de dois dotados e extraordinários seres.

Apesar de, tão cedo, ter-se apaixonado seriamente pela figura esbelta, estética, desse ser naturalmente conquistador, possuidor de tantos louváveis atributos e atrativos, personificados no sonhado namorado, seu príncipe encantado, e de vir a conscientizar-se de que esses mesmos valores e atributos que tanto magnificava e nele mais ainda magnificou, e que a todos impressionavam, foram precisamente os seus adversários maiores, os motivadores e causa de sua enorme decepção, da sua inimaginável frustração, soube entretanto ser firme, visualizando e seguindo o norte de sua agulha imantada, sem a ninguém confidenciar detalhes do seu segredo. Fracasso ! Fracasso! Exclama!!! Mostra-nos assim tão ingênua e abertamente a sã honestidade de seu espírito, ao mesmo tempo inquiridor, arguto, definido, juvenil, crédulo, cândido, puro e sonhador, que a faz cultivar essas primícias amorosas em clima do melhor, sincero, autêntico e doce romantismo. Mas rápida, independente e inteligentemente amadurecida deixa-se, rendida, concluir filosófica e profundamente : “Isto quer dizer que a maior riqueza de cada pessoa é a sua própria pessoa, a sua inteligência e seu coração” ? . . . Adaptando-se, mesmo inconformada ante a obviedade da vida e de sua surpreendente natureza, para concluir realisticamente que cada um alimenta os sonhos de que carece a sua alma ou aspira o seu espírito: “Non in solo pane vivit homo” = Nem só de pão vive o homem. “Nosce te ipsum” = Conhece-te a ti mesmo . “Omnia mea mecum porto” = Tudo que tenho levo-o comigo. E nas palavras de Alvarenga Peixoto, um grande, inspirador e corajoso lema: “Non ducor, duco”, = Não sou conduzido, conduzo. Um perfil de caráter e firmeza, em meio à adversidade!

O “romance biográfico” acaba constituindo-se em verdadeira novela, com muitos personagens, entre os quais, entremeadamente, episódios de verdadeiro lirismo e humana vivência, alguns ligeiros e passageiros e, em outros, oferece-nos verídicos e excelentes momentos com atores e prosadores, com deliciosos diálogos, que rememoram com aprimorada acurácia e diligência, fatos importantes da história do século xx, como o sucinto resumo de Fred, em que Shania faz ressaltar a intelectualidade e conhecimentos de seu “Adonis”, rememorações tão importantes para o conhecimento de todos os que não viveram os atrozes tempos da 2ª Guerra Mundial: o suscinto resumo sobre o nazismo e seu fundador Adolf Hitler, cujo relato romanceado atualiza esclarecimentos vitais para as gerações recentes, que não podem adequadamente ponderar devidamente ou avaliar o que foi o “holocausto”, a facilitar o entendimento adequado dos episódios dramáticos que levaram à hecatombe dessa última guerra mundial. O que era o nazismo e sua afinidade ideológica com o fascismo, está brilhantemente resumido no conciso trecho:

“... Em 1919 Hitler entrava para o recém fundado Partido Operário Alemão, - fundado por um operário, cansado e desiludido com injustiças e frustrações - e, tentou através de um golpe, dominar o poder na Bavária. O golpe fracassou e Hitler foi preso por cinco anos, findo os quais regressou à direção do partido. O partido cresceu e pôde assim competir nas eleições de 1933 as quais venceu, por ter recorrido a todos os processos de chantagem e intimidação. Uma vez no poder, Hitler instalou um regime de ditadura ...” . . “ A idéia fundamental do nazismo era a comunidade do povo germânico, fundada na identidade da raça. Esta idéia iria inspirar toda a organização jurídica e política do sistema e toda a linha de ação do movimento nazista: a reunificação da grande Alemanha, com a anexação da Áustria e partes da Tchecoslováquia; expurgar os que não fossem da raça germânica, com a luta genocida contra os judeus” ... (“um povo, uma nação, um chefe = Ein Volk, ein Reich, Ein Führer”); as únicas normas de direito e de moral eram as exigências do bem-estar e do desenvolvimento da raça germânica interpretados pelo partido e pelo Führer. Assim, a pessoa humana em si nada valia, senão em função da comunidade racial. Isto significava que mentir, roubar ou matar era considerado normalmente bom, na medida em que contribuísse para os interesses da raça; todas as instituições públicas, sem excetuar a educação e a justiça deviam servir os objetivos do partido. Nascido de uma crítica justa contra os exageros do liberalismo como protesto contra as injustiças cometidas com o povo alemão na Primeira Guerra Mundial, (1914/1918) o nazismo, como todo regime totalitário, pôde pela violência assegurar-se um triunfo, mas apenas passageiro, porque a História ensina que ninguém comete impunemente crimes contra a dignidade individual da pessoa humana.”

A idéia era produzir um “Reich” que duraria mil anos! . . . Verdadeiro delírio!!! . . .

É possível imaginar, quanto a Shania embevecida pelos vastos conhecimentos de seu jovem Fred, esse ser tão promissor de loquacidade musical, se deixava consentidamente envolver, na simultâneidade dos sonhos, sentimentos de admiração, solicitude e afeto.

Impossível resistir a ilações, paralelos, sugestões ou similitudes, guardadas as devidas proporções, mas esses dolorosos fatos acima relatados aguçam e atualizam nossa consciência para os tempos presentes de nosso infelicitado povo, que também repetidamente frustrado por injunções políticas, injustiças e contínuas decepções, aspira ansiosa e constantemente por tempos de justiça e nova aragem libertadora, redentora, mas acaba inconscientemente, como o fez o povo alemão, elegendo democráticamente um líder operário que fundou um partido operário e logo no poder nos faz assistir a toda a classe de desapontamentos, desagradáveis surpresas, desmandos, dist

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