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Publicado: Segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A juventude e a sua diferença

A juventude e a sua diferença
Só a juventude nos protege do conformismo!

A juventude dos meus filhos tem me feito revisitar, de forma intensa e constante, as lembranças dos meus tempos de jovem-moça. E como em tantas outras experiências desta roda-viva, que é a vida da gente, sinto, com isso, despertar em mim as mesmas perguntas daquela época. Mais ou menos como uma intimação da vida, insistindo sem parar, que é hora, de novo, de refletir sobre as respostas dadas e até então, adormecidas.  

Confesso que isso tudo me assusta, mas também desafia e inspira...  Já disse algumas vezes, senão muitas, que o meu forte interesse, tanto para leitura, como para escrita, está na complexidade da vida, principalmente das relações humanas.  Gosto de observar os sentimentos frente às adversidades do cotidiano para neles e com eles, refletir, trabalhar e tentar encontrar um pouco mais de sentido e paz, clareza e propósito nas atitudes tomadas.     

Por isso escrevo. Atenta à agenda da modernidade, arrisco dizer que apesar de tanta tecnologia, inovação e invenção, a mesma inquietude e ansiedade por compreender a existência humana continuam incomodando a alma da juventude, na luta filosófica (ainda bem!) contra o conformismo e a mesmice.

As respostas que demos às perguntas da nossa juventude foram, de fato, pautadas em nossos sonhos ou se acomodaram nas expectativas da sociedade? Os desejos  alcançados eram realmente nossos ou se misturaram aos dos outros? Em que ponto da nossa história essas perguntas se aquietaram e adormeceram, como um bom menino? 

Sabemos de muitas histórias, acompanhamos vitórias e fracassos de outras, julgamos fatos, guardamos alguns segredos, defendemos pontos de vistas, proclamamos o certo, mas como disse Fernando Pessoa, “nada sabemos da alma, senão da nossa; as dos outros são olhares, são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo”.

Assim, então, porque insistimos no desejo de que a juventude repita o nosso caminho? Por que as ações e os questionamentos desta nova geração tanto nos incomodam?

Longe de mim a pretensão de oferecer respostas prontas ou verdades absolutas. Satisfaço-me com o “barulho” - mais ou menos como fazia o padre da minha cidade, quando menina, tocando bumbo nas ruas - da dúvida refletida e bem pensada, ajudando a despertar consciências adormecidas pelo efeito anestésico do conformismo. E faço isso com a alma pesada, quase que pedindo desculpa a esta nova geração, porque, em muitas situações, replicamos preconceitos e paradigmas no toque automático da vida.       

Somos, sim, uma geração rendida ao conformismo e ferimos os nossos jovens e adolescentes com as garras afiadas e certeiras da arrogância; de forma velada, talvez inconsciente, porém secreta dentro das casas e muito bem institucionalizada dentro das escolas. No fundo, o nosso desejo é que tudo fique no lugar, nada mude e tudo se repita. E por isso, também, somos intolerantes: a arrogância é a guardiã da intolerância e do conformismo. Ou seja, não aceitamos outro jeito de aprender e pensar, de viver e ser, porque isso significa enfrentar fraquezas, revelar segredos e, sobretudo, permitir-se humano. Simplesmente humano.

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