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Publicado: Quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A fluência em um idioma

Crédito: Foto/Divulgação A fluência em um idioma

Você está numa entrevista de emprego e ... surge aquela temida pergunta: qual é o nível do seu inglês? Aí você, após fazer aquele teste gratuito na internet, crente que está avançado e por ter feito aquele intercâmbio dos sonhos, no interior da África do Sul, não consegue conversar perfeitamente com o entrevistador, que por sua vez, cursou inglês britânico praticamente a vida toda. Mas, e aí? Seria a solução sair bolado da entrevista, desistir de tudo e já ir virando hippie?

Não, ainda! Acontece que pode ter havido apenas alguns desentendimentos na conversação que o fez gaguejar, dizer vinte vezes “excuse-me” e fazer algumas caretas de dúvida durante a conversation - o que não significa que você realmente é tão zoado assim.

Anyway, a fluência de uma língua pode ser muito subjetiva: você pode ser fluente num idioma, porém sempre com algum sotaque, dependendo do lugar que serviu de referência para o seu aprendizado, como por exemplo: você poderia falar o inglês do Norte da Grã-Bretanha, o espanhol de Andaluzia ou mesmo o alemão da Suíça.

Obviamente todas as variações de um idioma possuem palavras em comum, mas que limitam o campo da fluência, já que uma parte limitada de sons, palavras e construções gramaticais se repetem em todas as variações. Exemplo: Para quem ouviu os incontáveis sotaques da língua espanhola, poderia saber, ou não, que alguns países do Caribe, hispano-falantes, substituem a letra R por L, como em por que (Lê-se pol quê). Outro exemplo, também do Caribe, é a substituição da palavra girl por gyal, que soa mais próximo do sotaque caribenho.

Tudo isso, numa conversação é o suficiente pra você despencar nos níveis de fluência, daquela famosa escala europeia, que vai de A1 à C2 (A1, A2, B1, B2, C1 e C2 – onde A1 é o mais básico e o C2 o nível de mestria e proficiência), e pirar numa entrevista de emprego.

Penso que a fluência se encontra em um espectro que varia desde compreender e descrever claramente algum objeto, situação ou coisa, independente da variação linguística, até o nível em que você pode se passar como um nativo de determinada região, por saber das expressões locais e seus costumes. 

Outro bom exemplo é: para quem trabalha no ramo de comércio exterior, é habitual se comunicar em inglês com a maior parte das nacionalidades ou também num idioma proposto para a comunicação, por ambas as partes. Eis que, se o assunto for estabelecido no idioma português entre um chinês e um brasileiro, seria difícil que um estrangeiro entendesse que “capaz”, falado na região sul do Brasil, se refere a “sem problemas” ou “de nada”, em vez de “talvez” ou “apto”, falado no restante do país.

Já parou para pensar o quão difícil é para um gringo, quando ele estuda português com sotaque de São Paulo conversa com outro estrangeiro, que também fala português, mas o sotaque do Rio de Janeiro? Um carioca nato, vendo a situação, soltaria um “Caraca, mermão, que louco!”

Aliás, em nossa própria região podemos notar as variações dos sons das letras R e L, que dependendo da cidade é pronunciado como na língua italiana, devido à imigração. Ou mesmo em alguns bairros onde podem se formar comunidades de imigrantes, que acabam por modificar a língua em um lugar específico.

Enfim, medir a proficiência, tanto numa entrevista de emprego ou em qualquer exame, não é uma boa maneira de avaliar, já que o leque de palavras, expressões e construções gramaticais é bem maior do que aprendemos ao estudar ou vivenciar o padrão de qualquer idioma. As pessoas só conversarão rapidamente, com jargões ou mesmo expressões se falarem a mesma variação. Por isso, além de, certas vezes, estes rótulos até influenciarem na nossa própria autoestima, a sua fluência sempre será diferente da dos outros, caso vocês não tenham estudado o idioma da mesma região, cidade, talvez até do próprio bairro.

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