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Publicado: Sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A família no Documento de Aparecida - I

Cuidar da Família é cuidar da Vida!
 
Ninguém nega que a qualidade da vida humana não é nem de longe como deveria ser, principalmente se levarmos em conta o empenho de Deus. Mas o homem ainda não aprendeu a viver e paga um preço muito alto.
 
Famílias ausentes, desestruturadas, desligadas, mal construídas estão cada dia mais presentes em nosso meio. Pouco caso, políticas erradas, interesses... têm atingido nossas famílias provocando abalos sensíveis em suas estruturas.
 
A preocupação com a situação e o futuro da instituição familiar é grande e tem sido alvo de manifestações por parte da Igreja. A família é tema de inúmeros documentos, homilias, entrevistas, jornadas, congressos. Ao longo da história o assunto família ganhou a atenção e o carinho dos nossos papas.
 
Não é para menos, se compreendermos o quanto dependemos da família, como pessoa, como comunidade, como sociedade. Poderíamos dizer que a Vida depende da família, para que floresça com saúde: física, psicológica, moral, social e espiritual.
 
Infelizmente a família, que deveria ser tratada com dignidade, respeito e atenção, sofre ataques, maus tratos e até desprezo por parte da sociedade, das autoridades e governantes.
 
Mesmo não sendo tão original, em suas observações, o recente Documento de Aparecida, fruto da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe - 2007 destaca aspectos relevantes sobre a importância da família, as ameaças a que está sujeita e os riscos que a sociedade sofre com seu enfraquecimento.
 
O mundo mudou, infelizmente, nem sempre para melhor. A miséria e a fome ameaçam brutalmente as famílias, comprometendo sua vida natural, moral, social e religiosa. É muito grande o número de pessoas que não gozam de um ambiente familiar bem constituído. Acabarão morrendo de “fome”: de alimento, saúde, educação, trabalho, carinho, afeto, respeito, justiça... ou “por maus tratos”: violência interna e externa, exploração, abusos, prostituição, drogas...
 
Difícil acusar, tantos seriam os culpados, mas o Documento lembra dois adventos modernos que abalaram o mundo: os meios de comunicação e a globalização. Diferentes das mudanças ocorridas em outros tempos, estes afetam o mundo inteiro. Destaca, como um fator determinante dessas mudanças, “a ciência e a tecnologia, com sua capacidade de manipular geneticamente a própria vida e de criar uma rede de comunicações de alcance mundial...”.
 
Desse modo, “a história se acelerou e as próprias mudanças se tornam vertiginosas...”. Nem seria preciso dizer que tudo isso acabou “impactando a cultura, a economia, a política, as ciências, a educação, o esporte, as artes e também, naturalmente, a religião”. (Cf. itens 34 e 35).
 
O problema é que os meios de comunicação, cada vez mais, roubam a nossa atenção, manipulam idéias, opiniões e conceitos, ditam modas e costumes; armam-se de “imagens atrativas e cheias de fantasias”, assumindo papéis delicados de babá, conselheira, educadora e formadora de opinião e da própria consciência. O que vemos é, na verdade, um bombardeio de informações que pouco representam para melhorar a vida pessoal ou social do homem. Como disse o Papa Bento XVI: “só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano”. No entanto, “a sociedade que coordena suas atividades só mediante múltiplas informações, acredita que pode agir de fato como se Deus não existisse. Mas a eficácia dos procedimentos conseguida mediante a informação, ainda que com as tecnologias mais desenvolvidas, não consegue satisfazer o desejo de dignidade inscrito no mais profundo da vocação humana”. (Cf. item 42).
 
Diluem-se as tradições culturais, verdadeiros tesouros de sabedoria que se perdem, porque “já não se transmitem de uma geração à outra com a mesma fluidez que no passado”. Destaque-se aqui a “experiência religiosa, que se torna agora igualmente difícil de ser transmitida através da educação e da beleza das expressões culturais, alcançando inclusive a própria família que, como lugar do diálogo e da solidariedade inter-geracional, havia sido um dos veículos mais importantes da transmissão da fé”. (Cf. item 39).
 
A globalização possui dimensões econômicas, políticas, culturais, comunicacionais, etc.
 
Lamentavelmente, a mais difundida é a econômica, que se sobrepõe às outras dimensões da vida humana. Por isso, somos chamados a promover uma globalização diferente, que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos. (Cf. itens 61 e 64).
 
A globalização, aliada aos meios de comunicação, acabou criando uma “nova colonização cultural pela imposição de culturas artificiais, desprezando as culturas locais”, especialmente aquelas sedimentadas nas famílias, sem dúvida, as grandes depositárias dos verdadeiros valores. Isso está atingindo gravemente as relações humanas, “consideradas objetos de consumo, conduzindo a relações afetivas sem compromisso responsável e definitivo”. As consequências são por demais conhecidas, atingindo a todos: homens e mulheres modificam seus papéis tradicionais, mulheres são vítimas de violências (tráfico, violação, escravização e assédio sexual) e exploradas como objetos de lucro pela mídia publicitária, a avidez do mercado descontrola o desejo de crianças, jovens e adultos, iludindo-os “maravilhosamente”. (Cf. itens 46, 48, 49, 50).
 
Estamos, pois, diante de uma cultura de anti-valores que exige, por parte das famílias e da sociedade, uma resposta urgente.
 
Nesta primeira parte, mostramos um pouco de nossa sociedade e da família, diante da missão que lhe foi delegada por Deus e da falta de apoio frente aos seus inimigos antigos e modernos.
 
Mas é sempre tempo de lutar e de vencer os desafios e isso é possível, como tentaremos mostrar na conclusão destas reflexões... 

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