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Publicado: Quinta-feira, 18 de abril de 2013

A evolução alimentar - parte 4

 Cerealismo

Migrando por melhores campos de caça, o ser humano acabou se espalhando por todo o globo, inclusive colonizando territórios agrestes e insalubres como a Europa, em que a variação de temperatura só deixou vivos os mais fortes. Em várias cidades européias, no verão a temperatura pode ultrapassar os 30o C e no inverno neva. Sob a neve, era difícil conseguir alimentos. A melhor solução era estocar para o inverno, e o alimento ideal para ser estocado é o cereal. Em determinadas regiões implantou-se um novo sistema alimentar, o cerealismo. O cerealismo por si só, como sistema nutricional definitivo, não é muito atraente. Mas ainda iria piorar muito com um modismo que assolou o mundo a partir de 1960.

No Século XX um japonês, vivendo em Paris, codificou um novo sistema surrealista, digo, cerealista, radical, nipocêntrico. Era a macrobiótica. Alguns dos seus princípios eram:

Não beber água, jamais. Chá, só quente, sem açúcar, e apenas umas ou duas xícaras por dia.

Frutas estavam proibidas. Eram "muito yin".

Batata era considerada um veneno. Quem comesse morreria.

Em compensação deveríamos adotar shoyu, missô, tofú, algas marinhas e arroz na tigelinha. Ou seja, o mundo deveria converter-se aos gostos culinários japoneses.

Praticamente tudo o que fosse ingerido deveria ser cozido, com exceção de um temperinho verde, usado com parcimônia.

Qualquer coisa doce, mesmo o mel, era interditada, mas abusava-se do sal. Tudo era salgado: o gersal (tempero à base de gergelim moído com sal), shoyu (molho de soja salgado), missô (pasta de soja salgada). Até no chá recomendava-se dissolver uma ameixa umeboshi salgada. Isso associado à restrição quase total de água, comprometia seriamente os rins.

O prato era constituído por arroz integral cozido com pouquíssima água, o que o tornava duro (quanto mais duro, melhor, ficava "mais yang"). Sobre o arroz, colocava-se um pouco de gersal e de tempero verde. Acompanhava um outro prato denominado secundário, constituído por legumes cozidos com shoyu, o que os deixava marrons. Mesmo assim, eram uma delícia se comparados com o arroz. Mas não permitiam que se comesse demais o secundário, pois havia uma proporção rígida que devia ser obedecida à risca. Se você pusesse um pouco mais de gersal ou se usasse shoyu no arroz era repreendido publicamente pelo dono do restaurante. Conversar durante as refeições estava proibido. Isso não acontecia em um ou outro, mas em todos os estabelecimentos. Nos restaurantes de algumas associações macrobióticas, enquanto as pessoas comiam, o presidente da entidade ficava dando instruções de mastigação e de combinação de alimentos pelo alto-falante, bem como descrevendo algumas doenças (imagine, você comer escutando falar de doenças!).

A macrobiótica compreende sete graus de radicalização: os regimes um, dois, três, etc., até sete. Mais tarde, como muita gente não conseguia cumprir nem o regime um, foram acrescentados os regimes menos um, menos dois e menos três, caso contrário os restaurantes, as lojas e as indústrias que viviam desse comércio não sobreviveriam. O regime menos três é, praticamente, a alimentação comum. No entanto, segundo Oshawa, macrobiótica é o regime sete. Os demais são apenas estágios de adaptação para atingir a macrobiótica. O regime sete é 100% cereais. Esses cereais podem ser arroz, trigo, cevada, centeio, etc.

Felizmente, isso foi no passado... Hoje, o que as pessoas conhecem é algo totalmente diferente daquilo que Sakurazawa Nyoiti denominou tyori-dô, ou macrobiótica. Creio que as mudanças deveram-se ao fato de que a macrobiótica não gerou nenhum macróbio e todos morreram relativamente cedo ou abandonaram o regime, que era uma tortura.

Bem, estamos falando da macrobiótica verdadeira, aquela que era praticada quando seu codificador estava vivo e nos primeiros anos após sua morte. Virou moda e transformou-se numa praga na década de 70. Mais ou menos a partir da década de 80 do século XX observou-se um desnaturamento daqueles princípios que foram considerados, por uns, muito difíceis de se seguir; por outros, incorretos. O fato é que hoje o que se conhece como macrobiótica é algo bem mais palatável que se aproxima um pouco do vegetarianismo.

Vegetarianismo

Boa parte da humanidade descobriu que comer carnes não era saudável e eliminou-as da sua mesa. Hoje contam-se em cerca de dois bilhões de vegetarianos no mundo. Mais de um bilhão é constituído pelos hindus. Além deles, contabilizamos os adventistas, os praticantes sinceros de Yôga do mundo todo, e os simplesmente vegetarianos das diversas vertentes.

Quando falamos em vegetarianismo poderemos estar englobando os vegetarianos (lacto-ovo-vegetarianos), os vegetalianos (lacto-vegetarianos) e os vegetaristas (vegetarianos puros ou vegans). Esta é uma das nomenclaturas usadas. Contudo, não há consenso. Na Índia, por exemplo, vegetarianos são os lacto-vegetarianos.

Afinal, essas três vertentes são primas entre si. O princípio básico é não ingerir carnes de nenhuma natureza e de nenhuma cor. Isso de intitular-se vegetariano só por não comer carne vermelha, mas ingerir carne branca, é hipocrisia.

Quando alguém declarar que é vegetariano, mas come carne de peixe, diga-lhe que não é vegetariano. Isso tem outro nome. Como é mesmo...? Começa com um radical grego. Macrós... Não. Hipós... Isso! Hipo, hipo... hipócrita!

As diferenças entre as três correntes acima são as seguintes:

Vegetarianismo aceita ovos e laticínios, além de 15.000 variedades de legumes, cereais, raízes, hortaliças, frutas, castanhas, massas, etc.

Vegetalianismo não aceita os ovos. No restante, não há diferença.

Vegetarismo não aceita os ovos nem os laticínios. Só vegetais.

Será que pode haver algo ainda mais radical do que o vegetarismo? Sim, o Naturismo.

DeRose

(continua na próxima publicação...)

 

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