A Espuma dos dias

A Espuma dos dias pode ser considerada um projeto original de Gondry autor de obras primas como "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças" e "Rebobine, por favor,". Mas esses filmes citados são produções americanas. Já suas produções francesas se têm uma liberdade artística maior para ele inventar e não é presa ao produtor como no mercado americano. Destaco duas obras de Gondry que são sensacionais como "A Ciência do sonho" e o mais recente "A Espuma dos dias". Em seu ultimo filme rodado em Paris, ele é baseado no livro de Boris Vian um clássico da literatura francesa. Vian era um entusiasta do jazz Frances e isso se confirma no filme todo, já que a trilha sonora e os próprios elementos do filme fazem referencia ao jazz.
Gondry consegue se tornar uma criança quando dirigi ou escreve um de seus filmes. Ele usa toda a sua imaginação para fazer seu projeto uma obra de arte ou mesmo uma fabrica de sonhos. Coisa que o cinema se esqueceu independente da nacionalidade do filme. Mas mesmo com toda essa liberdade e graciosidade que a produção possui ela chega a ser cansativa, mas claro que isso tem uma explicação pela sua própria narrativa. Em "A Espuma dos dias" acompanhamos a jornada de Colin (Romain Duris) um jovem que vive sozinho, com o seu cozinheiro Nicolas (Omar Sy). Colin é tímido, e quase isolado do mundo. Gondry volta a criar seu próprio universo dentro do filme, a casa de Colin é um reflexo do espírito dele. Na cena de abertura podemos ver qual a personalidade dele, antes mesmo de ser apresentado para o espectador. Quando a câmera passeia pela sua casa, vê que ele é um inventor e tudo lá dentro é cheio de várias bugigangas esquisitas que só o próprio diretor iria conseguir explicar. Mas a casa é viva e cheia de cores e alegria reina no lugar.
Ao avançar no filme vemos uma sociedade capitalista e ditatorial. Quando a produção sai um pouco da vida de Colin e explora a vida dos amigos dele como Chick (Gad Elmaleh) e Alise (Aïssa Maïga) vemos que aquele universo de Colin é uma utopia e o mundo real que ele não enxerga é horrível. Gondry parece que faz uma homenagem aos filmes "Fahrenheit 451" de François Truffaut e "Tommy" a opera rock da banda "The Who" que foi dirigida pelo diretor britânico Ken Russell. Essa homenagem está presente pelo poder político e capital do filme e também pela ordem religiosa, que é muito estranho.
Colin conhece a bela Chloé (Audrey Tautou), uma jovem cheia de energia que mexe com ele. Os dois se apaixonam de cara e começam a sair juntos para se conhecerem. A cena em que o diretor cria em que eles viajam pela frança numa nuvem é linda. Gondry parece que não tem limites para a sua criatividade.
Os dois se casam e começa um lindo romance, o filme deixa a pensar que vai se formar um triângulo amoroso entre os dois e Nicolas. Mas ele só deixa essa sensação no ar, e não confirma de fato o que acontece.
O legal do filme é como ele vai mudando de uma linda história de amor, para um drama pesado e real. Chloé fica doente e descobre que tem uma rara doença e aos poucos isso vai consumindo ela e Colin, tanto emocionalmente como financeiramente. O retrato dessa depressão é formidável no filme, porque primeiro se vê pela casa que antes era alegre e colorida, logo ela vai ficando cinza e morta (sim, a casa está viva) e a fotografia do filme vai mudando com o seu final. Quando a doença de Chloé vai avançando as cores passam do cinza até chegar ao preto e branco. Colin é forçado a deixar sua antiga vida de luxos de lado e procurar empregos, um mais bizarros do que outro.
Mas essa mudança que o filme faz é genial e os recursos também que vão do efeito prático sem o uso de "3D" ou "Chroma key". E claro o uso do "stop-motion" que é marca registrada de Gondry em seus filmes. Colin muda muito sua postura a tudo que está acontecendo em sua vida. Até claro ao inevitável final, que de certa forma o diretor já nos deixa preparado. Desde as cores do filme como a própria ação dos personagens e os diálogos.
"A Espuma dos dias" não é um filme fácil de ver porque pode ser cansativo para alguns que não acompanham a grandiosidade dos filmes de Michel Gondry, ou não querem entrar de cabeça nessa fábrica de sonhos que é o cinema. Mas se você tiver calma e um pouco de esperança pode ver que ele é um grande diretor e que está com um pé no que era produzido antigamente e o outro no futuro. Assim como esse filme, que pode ser colorido ou cinza. Mas a surpresa ou a emoção de encontrar um próximo filme desses Frances sempre vai colorir nossas vidas, ou não.