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Publicado: Sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A escola sozinha não faz a diferença

A escola sozinha não faz a diferença
Bem antes da escola vem o interesse dos pais

Ao aceitar o convite para participar do programa de entrevistas “Três Damas e Um Coringa”, da TV Convenção, sabia o que me esperava: uma ampla discussão sobre a participação dos pais no processo educacional dos filhos. 

Ajudar nas tarefas escolares? Proibir o uso do computador? Ceder aos caprichos dos filhos? Recompensar as boas notas? Interferir nas regras da escola? Desconfiar das atitudes dos professores? Castigar? Conversar?

Essas são algumas das muitas dúvidas expressadas pela maioria dos pais num contexto de rápidas transformações sociais e que, por isso, pautaram os 60 minutos da entrevista, que foi conduzida por 3 jornalistas - também mães desejosas de fazer o melhor pelos seus filhos. 

A educação dos filhos é um tema delicado. Abordá-lo num programa de televisão exigiu, além do cuidado redobrado com as palavras ditas, uma vez que não seria possível teclar “delete”, a habilidade de enxergar as questões sobre os seus diversos pontos de vistas. Lembrando Leonardo Boff: “todo ponto de vista é à vista de um ponto”.

Como já explorei várias vezes o tema da entrevista e tenha evitado fazer-me repetitiva, não pretendia trazê-lo para o debate senão fosse à divulgação da pesquisa realizada pela Fundação Itaú Social. Publicada pelo Jornal “O Estado de São Paulo” no final do mês de outubro e com o objetivo de orientar as políticas públicas voltadas ao ensino brasileiro, a conclusão dos estudos corroborou as minhas opiniões: “O contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar de um estudante”. Fabiana de Felício, responsável pelo trabalho e consultora do Ministério da Educação, diz quais são os fatores principais para o bom desempenho escolar: “o nível de escolaridade do pai e da mãe, a renda familiar, o tipo de moradia e o acesso aos bens culturais”. 

Com isso, faz sentido as críticas ao modelo esquerdista - que continua sonhando com boas escolas sem o fortalecimento da economia. Mas essa é uma outra conversa. O que precisa ficar, quando todas as outras palavras forem esquecidas, é o fato de que não há sucesso na educação dos filhos sem o esforço constante dos pais. Educar é trabalhoso e se desejamos as respostas para as perguntas que pautaram a minha entrevista, teremos que entender que a educação é realmente um processo amplo e contínuo. 

Por isso a família está em primeiro plano. Bem antes da escola vem o interesse dos pais, o ambiente em casa, a participação na vida dos filhos e o desejo de ajudá-los a crescer. A boa conversa na hora do almoço, um filme assistido juntos, o livro lido em voz alta, um comentário sobre o noticiário e as atitudes frente às situações do dia a dia são lições que marcam a vida toda.  

Portanto, não há escapatória, e o diagnóstico, sobretudo para os pais que desejam transferir a responsabilidade, pode incomodar: a escola sozinha não faz a diferença. Desenvolver aspectos cognitivos requer estruturas emocionais e afetivas, contempladas fundamentalmente na relação familiar. E por mais que essa relação perpasse pela subjetividade; amor e respeito têm sempre muito lugar.

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