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Publicado: Domingo, 28 de março de 2010

A doença da intolerância homofóbica

A doença da intolerância homofóbica
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Ontem, em uma festa na minha casa tomei um susto com o teor da conversa de neo–adultos (de 17 a 25 anos) “urubuservadores” do BBB10 da Rede Globo.

O Big Brother Brasil tornou-se a bobagem mais comentada do fim de verão! Espaço indiscutível de formação de opiniões (sem detalhes de conteúdo), essa edição ficou marcada pela necessidade de confinamento e tolerância entre diferentes grupos sociais.

A polarização obvia e catalisadora foi a presença de participantes assumidamente homossexuais. Quanta homofobia declarada, disseminada e latente; quanta defesa acalorada sobre os direitos homo. Tudo o que a sociedade preserva em guetos foi globalizado numa casa, obrigando o debate insano e às vezes meio nauseante sobre as opções sexuais como elemento chave da organização de grupos sociais , valores morais e competições descabidas.

Na verdade, o mundo já não é tão extremado: vejo hoje homo, heteros e simpatizantes num mundo mais justo e repartido, e muito mais respeitoso no dia a dia.

Lembro do choque enorme dos mais velhos no século passado quando Rock Hudson morreu de AIDS. Muito havia dentro de um armário embolorado de vestimentas enlatadas com pouca margem de mudança.

Agora, não. Vamos conviver, vamos tolerar, vamos discutir as diferenças e ensinar a diversidade.

Nem sempre isso é controlável. A Globo, ao atropelar a sociedade, os quereres psicológicos sobre temas de novelas & beijos gays, invadiu todos (ou quase todos) os lares colocando as diferenças a flor da pele dentro de uma casa quase comum.

Do lado de cá, a “chapa” ficou quente.

A homofobia quase sai do controle, a partir da polarização nacional de uma drag queen contra um macho alfa. A internet colaborou de forma recorde e entusiasmada para que se prevalecesse a intolerância. Surgiu apalavra “heterofobia” – como se os homossexuais do programa tivessem a capacidade e o poder de simbolizar a opressão de uma minoria sobre uma maioria.

Em alguns ambientes, como Twitter, blogs e fóruns houve ameaças a comentários pesados. Foi no ambiente de redes sociais que a intolerância e homofobia multiplicou assustadoramente - Os grupos de ódio na internet cresceram quase 20% no ano passado, de acordo com o estudo “Digital Terrorism and Hate 2010” – localizaram quase 12 mil paginas de fomentos.

E a minoria, ah... essa minoria que faz barulho!!!  Não derrota, mas incomoda. Acho até uma precipitação honrosa ver que vão até as ultimas conseqüências, pedindo clamor e julgamento público: quem é melhor? Os homos ou os heteros?

Essa “santa bobagem” se originou em 1971, quando o psicólogo George Weinbrg combinou a palavra grega phobos ("fobia"), com o prefixo homo, transformando essa nova palavra em um termo usado para identificar odio, aversão, discriminação e sutis preconceitos de alguem contra os homosexuais.

No dia a dia, a homofobia pode ir do bullying, difamação, isolamento, injurias verbais, ironia, sarcasmo, falta de cordialidade, antipatia no convivio social até assassinatos.

Você não é assim ? ok, mas certamente conhece alguem que é.

A Homofobia é uma "epidemia nacional". Ela coloca  o Brasil numa desconcertante realidade: campeão mundial em assassinatos de homossexuais, onde a cada três dias um homossexual é assassinado vítima da homofobia.

Em 2009, 198 homossexuais foram assassinados no Brasil. , um aumento de 5% em relaçao ao ano anterior. Os gays são um dos grupos tidos como minoria no país, porém, eles são cerca de 10% da população, segundo pesquisa feita pelo sociólogo baiano Luiz Mott.

No Brasil, a constituição proíbe a descriminação de maneira genérica e várias leis tramitam para proibir especificadamente a descriminação contra homossexuais.

O projeto de Lei da Câmara 122/2006 (Iara Bernard) propõe a criminalização dos preconceitos motivados pela opção sexual de cada um – e mais ainda, tornando se um crime recebe punições de natureza civil para preconceito homofobico como perda de cargo público, bloqueio para contrato com a administração pública, dificuldade para acesso de credito bancário e perda de benefícios tributários.

Existe um Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e outro de Promoção da Cidadania Homossexual, parceria entre o Governo e sociedade civil organizada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos que prevê ações nas áreas da saúde, segurança pública, trabalho, educação e cidadania.

O primeiro colégio brasileiro inteiramente dedicado à cultura gay, a Escola Jovem LGBT, foi inaugurado em Campinas (SP) em 2010, com cursos livres e gratuitos em dança, Web TV, canto e coral. A escola é aberta também para heteros, uma parceria entre o Ministério da Cultura, o governo do Estado de SP e uma ONG de apoio à diversidade sexual.

Em MG, o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (Nuh) da Universidade Federal de Minas Gerais ofereceu oito vagas de estágio para atuação no projeto Educação sem Homofobia (inicio em março de 2010) cujo objetivo do projeto é desenvolver a formação continuada de educadores do sistema público de ensino para o combate ao sexismo, ao machismo e à homofobia, a partir do ambiente escolar.

Nós temos como mudar o futuro imediato e o futuro de todos nós: preconceito ao diferente é doença da alma, doença de falsos valores, doença da indiferença. É nojento, é intolerante, é pequeno!

Há espaço pra todos agora e no futuro. Mas abram os olhos: os preconceitos subliminares são verdadeiras “janelas killers” na memória alheia e tudo o que provoca uma ação, gera uma reação.

O BBB10 conseguiu de forma inusitada prender antropologicamente a atenção de todos para um vírus poderoso e resistente: preconceito, intolerância e pré julgamento. Isso não significa que as minorias possam reagir com igual prepotência...

Vamos viver menos doentes... vamos viver em PAZ !

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