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Publicado: Quarta-feira, 4 de junho de 2003

A CULPA É DO SEU SALÁRIO

O Banco Central apontou o reajuste dado aos trabalhadores, como reposição de perda do poder de compra , baseado em índices passados e que causa a chamada inércia inflacionária, como um dos motivos para se manter a taxa básica de juros da economia (SELIC) em 26,5% ao ano. A justificativa consta na ata da reunião do COPOM e que foi divulgada esta semana.
   O salário também deve ser o culpado pelo desemprego, que bateu o recorde histórico na Grande São Paulo em abril e que chegou a 20,6% da População Economicamente Ativa, a maior taxa desde 1985, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez, pela Fundação Seade em parceria com o Diese.
   A produção industrial teve queda de 3,6% em relação a abril do ano passado e o PIB caiu 0,1% no primeiro trimestre de 2003, em relação aos últimos três meses de 2002, segundo o IBGE.
   A economia, portanto esta estagnada, inclusive com deflação e a renda do trabalhador em queda livre. Isto cria um círculo vicioso porque com a renda em queda, há queda no consumo e em conseqüência, queda na produção industrial e com isso a industria acaba demitindo o trabalhador.
   Mas vamos a mais alguns dados, para mostrar a volúpia do nosso governo por arrecadar cada vez mais, o que faz com que sejamos quase escravos, pois, trabalhamos cada vez mais, para receber cada vez menos.
   Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), revelou que a carga tributária paga pelo trabalhador brasileiro sobre os salários é a segunda maior no ranking de 26 países, ou seja, 41,7% e perdemos apenas para a Dinamarca com 43,1%.
   E o pior é que quanto menor o salário, maior é a mordida. . Até dois mínimos pagasse em média 24,25% de tributos e acima de 50 mínimos 17,11%.
   O estudo constata que se a carga tributária sobre os salários caísse para 30% e sobre o faturamento das empresas passasse de 33,05% para 25%, cerca de dez milhões de trabalhadores sairiam da informalidade.
   Esse mesmo estudo mostra que trabalhamos 133 dias por ano, ou quatro meses e 13 dias, apenas para pagar tributos,ou seja, que de 1.o de janeiro a 13 de maio (Dia da Abolição da Escravatura) somos reféns do fisco.
   Além disso a classe média esta gastando cada vez mais para pagar serviços privados similares aos públicos (educação, plano de saúde, médicos, segurança e previdência privada).
   Mas como a culpa é do seu salário, se prepare meu companheiro, pois a sede do governo é insaciável.
   O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), defende após a reforma tributária o aumento do número de alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física.
   Hoje temos apenas duas alíquotas de 15% e 27,5%, mas cogita-se criar alíquotas de 35% a 50%, além de limitar as deduções com saúde e educação.
   Não podemos esquecer que o PT sempre defendeu na oposição, a correção da tabela do imposto de renda e agora se esqueceu no poder deste detalhe.
   Isso faz com que milhões de brasileiros passem mensalmente a contribuir para aumentar a arrecadação da Receita Federal, recolhendo o IR na Fonte, quando deveriam ser totalmente isentos. Vale lembrar que o limite de isenção hoje é de r$ 1.058,00.
   O ministro do trabalho Jaques Wagner, defende que as micro e pequenas empresas devem ter um tratamento especial para a redução de custos da folha de pagamento, e uma alternativa seria abolir o 13.o salário. Com isso mais uma vez o trabalhador de uma pequena empresa terá um tratamento diferenciado daquele que esta numa grande empresa e que normalmente tem mais benefícios.
   A redução dos juros, a retomada do crescimento, a geração de empregos era a bandeira do PT antes das eleições e foi por isso que chegou ao poder e não para apenas copiar o modelo anterior, que foi reprovado pelos eleitores na última eleição.
   Só para recordar, já tivemos até o chuchu como vilão da inflação. Será que o salário é o culpado por tudo que esta acontecendo atualmente?
   Acautele-se contra os homens que não costumam transformar as suas palavras em ações.
   - Theodore Roosevelt
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