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Publicado: Segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Conversação (1974)

A Conversação (1974)

Os anos 70 para o cinema foi conhecido como a "nova Hollywood" onde surgiram mestres do cinema como o próprio Coppola, Martin Scorsese, George Lucas, Brian De Palma, William Friedkin, Steven Spierlberg e Michael Cimino. Ambos os diretores usavam como principal influencia o cinema europeu mais o “neo-realismo italiano” que fica claro nas obras de Coppola, Scorsese, De Palma entre outros. A experimentação é outro ponto que fica mais clara com a edição, como a câmera, roteiro e o som.

A história por trás desses diretores nos anos 70 é incrível. Graças a eles temos o que o cinema tem hoje, seja com histórias de aventuras com a ficção não sendo um gênero "B" e sim "A" que é o caso de "E.T" e até "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" ambos de Spierbelg, ou também filmes de gângster que diretores como Scorsese e Coppola revolucionaram o gênero com "O Poderoso Chefão" que é um dos melhores filmes já feitos de todos os tempos. Ou até o cinema “noir” que é o caso de "Taxi Driver" que apresenta esses elementos, mas não segue a característica perfeita para ser considerado um “noir” clássico.

Um dos filmes que também surgiram com tudo era o cinema de espionagem, mas sendo mais um fato histórico, que contribui para o gênero, graças à época tanto pela guerra fria que se "encerrou", mas com algumas crises capitalistas fizeram a união soviética virar uma potencia, o escândalo de Watergate, crise no petróleo por causa da guerra do "Yom Kippur" e etc...

Bem o filme "A Conversação" podemos tratar como algo distinto disso, mesmo apresentando um cenário político do medo, onde tudo que você fazia poderia voltar contra você. Copolla nos apresenta uma história muito bem desenvolvida de um homem misterioso que trabalha como detetive particular e vive solitário e com suas regras, o interessante na história é como acompanhamos Harry Caul (Gene Hackman) na sua vida, mas ao mesmo tempo não sabemos nada dele, sós sugestões do que foi seu passado.

O plano inicial do filme é maravilhoso, Coppola usa um grande plano geral, no qual não sabemos quem acompanhar no filme, mesmo sabendo que Hackman é o ator principal, ficamos perdido e quando a câmera foca nele, rapidamente ela sai e começa acompanhar um casal. Logo sabemos que esse casal está sendo monitorado e as conversas gravadas, depois dessa apresentação inicial Harry, nos mostra a sua vida de segredos e até medo. O ritmo inicial do filme é de certa forma bem desgastante, talvez por mostrar como a vida dele seja sempre certa e com uma rotina, mas com o filme crescendo, até virar um grande filme de espionagem ele consegue mudar o ritmo e alterar algumas coisas no filme.

Coppola escreveu, dirigiu o produziu o "A Conversação", isso deu grande liberdade para ele fazer as "experimentações" que ele tanto gosta. Coisa que fica mais evidente na década de 80 com "Vidas sem Rumo" e o máximo que é "O Selvagem da Motocicleta". O filme em alguns instantes quer apresentar certa paranóia que Harry diz ter como o de ser seguido, mas vemos isso só em um instante no filme, então é difícil ver com o que ele está sofrendo e de certa forma ser tão descuidado em certos pontos. Talvez a regra máxima nesse tipo de serviço deva ser "Não se envolve", mas Harry faz ao contrario e se envolve em tudo. Tentando salvar o casal que ele investiga que mais tarde descobrimos que a mulher é casada com um poderoso empresário, fazendo com que Harry fique cego e tente proteger eles do empresário.

O uso de planos próximos para causar a claustrofobia que o personagem passa em uma cena onde ele investiga novamente o casal em um quarto de hotel é realmente incrível, principalmente pelos efeitos de edição que lembrou muito o "giallo" (gênero de suspense italiano), principalmente com as cenas de sangue, e o mistério do sobrenatural naquela cena. Quando Harry fica com peso na consciência pensando que entregou, ou melhor, deu motivos para a morte do casal, ele tenta falar com o empresário e na ultima cena, descobrimos a verdade, e vemos toda a criatividade narrativa de Coppola em frente ao roteiro, só com os olhares de Harry e com ele encaixando aquele quebra-cabeça em sua mente, descobrimos que a mulher e o amante fizeram uma trama muito maior para que na verdade o empresário, marido dela seja assassinado no quarto de hotel onde eles se marcaram de se encontrar. Isso é um verdadeiro “plot twist” e bem encaixado não só no filme, ou pelo trabalho de Harry como pelo clima político e social onde tudo era disfarçado e nada era o que parecia ser.

Uma pena que "A Conversação" seja um dos filmes menores na carreira de Coppola, já que no mesmo ano de 1974 ele lançou a continuação de "O Poderoso Chefão" que ganhou quase todas as categorias em que participou no Oscar. É interessante investigar a filmografia dele e ver seus ótimos filmes, tanto os maiores como os menores. Sempre descobrimos alguma coisa a mais tanto na sua personalidade como na cunha criativa. E mostrando que Francis Ford Coppola é um mestre do cinema e sempre será.

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